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Não utilize um alimento para tratar uma doença, mas para preveni-la

Foto/Arquivo Notibras

Basta passar do lado de uma banca de jornal para se deparar com pelo menos uma dezena de reportagens sobre o poder dos alimentos na prevenção ou até na cura de determinadas doenças, as últimas que eu vi falavam sobre a relação da berinjela com a diabetes, do alho com a gordura no fígado e até do chocolate com as doenças cardíacas. Se você prefere se informar pela internet, terá ainda mais exemplos como esses.

Fiz um teste e digitei no google ‘alimento que combate’ e ele completou automaticamente com: a anemia, a depressão, a ansiedade, o colesterol, a gordura no fígado, a alergia, a azia, a candidíase, a diabetes. Isso aconteceu porque muitas pessoas já haviam digitado essas frases completas no site de busca, como por exemplo ‘alimento que combate a azia’.

Em alguns casos, essas informações são verdadeiras, comprovadas científica ou empiricamente, ou seja, na prática. Como a couve que pode combater casos de gastrite ou outros distúrbios estomacais, substituindo até os remédios mais tradicionais, vendidos no mercado, desde que seja utilizada de maneira correta e associada a hábitos alimentares saudáveis. Mas na maioria das vezes são citados alimentos que são fontes de algum nutriente que de fato ajude na prevenção ou até no combate de muitas doenças.

O que não se diz é que a concentração destes nutrientes costuma ser baixa e portanto seria necessário consumir quantidades enormes destes alimentos para alcançar determinados objetivos, algo fora do comum. Dificilmente este volume será alcançado e se for, estará gerando um desequilíbrio, porque irá ocupar o lugar de outros alimentos na rotina alimentar.

Além disso, como eu já disse aqui no blog, o nosso organismo funciona como um grande laboratório de química, os nutrientes interagem o tempo todo e precisam estar equilibrados, se um deles estiver em falta, ou em quantidades insuficientes, irá atrapalhar o funcionamento de muitos outros. Se comermos berinjela de domingo a domingo, por exemplo, estaremos deixando de lado a abobrinha, o brócolis, a vagem, o quiabo, o chuchu e todos eles terão algo a nos acrescentar, assim como todos os alimentos naturais.

O segredo está na variedade. Se você tem um leque pequeno de frutas, verduras e legumes aprovados, tente experimentar novamente aqueles de que não gosta, com outros temperos, com outras combinações ou diferentes modos de fazer, eles podem te surpreender. Outra dica que até já funcionou comigo é voltar a experimentar alimentos que você parou de comer quando criança, com o passar dos anos o nosso paladar muda e pode melhorar.

Muitas doenças citadas nas reportagens das revistas ou nos textos da internet, que seriam combatidas por determinados alimentos, podem na verdade ser prevenidas com uma alimentação natural, ou seja, com comida de verdade e sem ultraprocessados (bolachas recheadas, macarrão instantâneo, refrigerantes, salgadinho, balas e doces coloridos…) rica em nutrientes e balanceada. Mas, infelizmente, esse estilo de se alimentar ainda está muito distante de milhões de casas brasileiras.

As práticas inadequadas como o baixo consumo de frutas, verduras, legumes, cereais e leguminosas e a alta ingestão de produtos ricos em sal, açúcar, gordura e aditivos químicos, aliados ao estresse e ao sedentarismo têm se refletido no aumento dos casos das chamadas doenças crônicas não-transmissíveis, como diabetes tipo 2, obesidade, hipertensão, acidente vascular cerebral, alterações cardiovasculares e câncer.

De acordo com o Ministério da Saúde, em 2016 69% das mortes ocorridas no Brasil foram por causadas por essas doenças. No mundo, esse índice é de 63%. Nesse caso, vale apelar mais uma vez para o ditado popular, prevenir é melhor do que remediar. E pode ser mais fácil do que você imagina.

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