Desde o episódio das Torres Gêmeas, nos Estados Unidos, o protocolo mundial é acusar o Irã e seus líderes de terrorismo. Não é nenhum exagero, tampouco nenhuma mentira deslavada. Todavia, a ladainha contra os aiatolás, divulgada a céu aberto pelo mandatário de Israel, Benjamin Netanyahu, chegou de tal modo ao Ocidente que hoje não há campanha que tire do regime de Teerã a origem de qualquer atentado terrorista pelo mundo. Tudo a ver com o ditado popular “quem faz a fama, deita na cama”.
Com a Revolução Islâmica, em 1979, a teocracia iraniana construiu uma reputação pouco republicana. O resultado é que, agora, os teocratas islâmicos têm de lidar com as consequências. Seria o Irã uma máquina de matar? Talvez, mas certamente muito parecida com o prazer mortífero do insensato e débil Benjamin Netanyahu, cuja brincadeira preferida é esculhambar e matar palestinos a tiros ou de fome. Nesse fim de semana, como se fosse sua última bala na agulha, Bibi recorreu a Donald Trump, seu colega de loucura contra o mundo, para explodir usinas nucleares em Teerã.
Nessa marcha da insensatez, Netanyahu e Trump alcançaram o cúmulo da irresponsabilidade ao ordenar ataques às usinas nucleares do Irã. Preocupados somente com a supremacia no país de Ali Khamenei e dos aiatolás supostamente financiadores do terror, ambos se lixaram solenemente para a possibilidade concreta da morte de dezenas de milhares de inocentes persas e até judeus por causa do vazamento de materiais radioativos. Em tempos de São João e São Pedro no Brasil, o fato é que, no Oriente Médio, Trump, Netanyahu e seus seguidores estão brincando com fogo e com a vida de milhões de seres humanos.
Imaginemos um erro no ataque e a essa altura a nuvem radioativa já teria ultrapassado as fronteiras dos países envolvidos nesse conflito de egos. E se Vladimir Putin, simpatizante das causas iranianas, ajudasse Khamenei a explodir os numerosos reatores nucleares de Israel? Também doido de pedra, o líder russo provavelmente seria queimado vivo em praça pública pelos defensores das macaquices mortais elaboradas e produzidas pela extrema-direita, segmento político ao qual pertencem Trump, Bibi e mais um bando de egocêntricos loucos pelo poder espalhados pelo mundo.
Narcisista aloprado, sem bússola e, principalmente, sem freios, Netanyahu vem impondo sacrifícios de todos os tipos às famílias israelenses e sangue, muito sangue, além de covas rasas aos palestinos. Enquanto sorri e se mantém indiferente diante da morte, ele trabalha incessante e ferozmente para sua glorificação eterna e histórica como o líder das meias verdades, da afirmação da segurança e do poder e da santificação da força como forma de se vingar da opressão imposta pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial, ocasião do assassinato em massa de cerca de seis milhões de judeus.
Transformar o Irã em cinzas, como fez com a Faixa de Gaza, não transformará o líder judeu em herói mundial, tampouco em um novo Messias do povo judeu. Muito pelo contrário. Repetir a crueldade do Holocausto em Teerã ou em Gaza talvez sirva para que boa parte da sociedade israelense antecipe o sonho democrata de colar o nome de Bibi em um busto com a casaca nazista em uma prateleira apinhada de monstros com caras de santos. Como amante da paz mundial, eu também desejo o fim do regime terrorista de Teerã. Entretanto, Trump, peço a Deus que Netanyahu e todos aqueles que não têm misericórdia com os semelhantes também sejam colocados no mesmo balaio furado no meio do Oceano Arábico.
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Misael Igreja é analista de Notibras para assuntos políticos, econômicos e sociais
