“…e se teu amigo o vento não foi te procurar, é porque multidões ele foi arrastar”
(Zé Ramalho, Eternas Ondas)
1.
Naquela manhã ele acordou.
Mais alucinado que antes.
Pensando em números e contas e bolsas de valores e juros.
Depois, tomou um banho, vestiu o terno italiano, a gravata e partiu.
Lembrou-se dos 25 anos e a Terceira Mensagem:
“…e virá como como guerra a terceira mensagem…”
Tomou o café e saiu decidido.
Entrou no carro e ligou o computador.
“Vamos Tob…rumo ao escritório. Tudo sob controle”
2.
Tob vivia uma vida meia estranha.
Sujeito rico demais e sem noção das coisas do viver.
Tinha tudo e nada.
Mandava e todos obedeciam e cada vez mais isso para ele não fazia sentido.
Chegou ao grande prédio da corporação e subiu.
Elevador (mais um dia) e encontrou no caminho Marta, a mulher do cafezinho.
___Oi, Dona Marta, tudo bem?
___Tudo bem, sim, sr. Tob.
(Silêncio)
3.
Tob nascera em um lar pobre, paupérrimo, e depois trabalhou duro para chegar até aquela torre de vidro.
Entrou no escritório, abriu o notebook e deletou todos os aplicativos daqli.
“Porque fiz isso?…Qualé, Tob? O que passa”
Segundos após, Tob chamou Emengarda, a fiel secretária e disse:
“A partir de agora eu decidi dividir tudo o que tenho com vocês”.
“Sr. Tob, o sr. Está bem? Vou chamar os seguranças”.
4.
Dez anos depois, Tob chegou novamente à frente da grande torre de vidro e percebeu que não era mais uma pessoa daquele espaço.
A vida havia modificado radicalmente as relações e o poder e tudo.
Pediu para entrar.
Não deixaram.
Ele entendeu, então, que o tempo e as aparências de poder são como fumaça no ar.
“…e se teu amigo o vento não foi te procurar, é porque multidões ele foi arrastar”
(Zé Ramalho, Eternas Ondas)
Tob morreu anos depois e deixou uma fortuna para os seus cachorros e gatos.
