Estamos no fim do ano. Muita gente em recesso, agenda esvaziada, promessas de uma semana morna. Mas quem pensou que teríamos dias tranquilos se enganou. A semana que passou entregou comédia, drama, aventura, suspense, ação e todos os gêneros que o brasileiro já se acostumou a consumir contra a própria vontade. Afinal, a essa altura do campeonato, já sabemos: o roteirista do Brasil não tira férias, não entra em recesso nem respeita feriado.
A semana começou com parte do país enraivecida por causa de um comercial de chinelo, enquanto a maioria ficou gargalhando sem culpa. A direita prometeu boicote, fez barulho, ameaçou cancelar tudo. Não deu certo. Mas, sejamos justos, pelo menos rendeu boas risadas com vídeos de gente imitando o saci-pererê na frente das lojas, num espetáculo involuntário de humor pastelão.
Também nos primeiros dias da semana, como se diz popularmente, Augusto Heleno meteu um atestado e foi pra casa. Xandão autorizou a prisão domiciliar de um idoso com Alzheimer, como manda a lei. Nada além do básico do Estado Democrático de Direito.
No meio disso tudo, o Datafolha tentou nos convencer mais uma vez da famosa tese da “polarização”. Eu já disse, e repito, que polarização não é esse conceito mágico que usam pra explicar tudo.
Como se não bastasse, a semana também foi marcada por ataques frontais aos trabalhadores brasileiros vindos dos sempre terríveis editorialistas da grande imprensa. A Folha de S.Paulo resolveu se posicionar contra o fim da escala 6×1. Já o Estadão achou por bem criticar o aumento real do salário mínimo. Ou seja, além de precisar estar em alerta permanente contra um Congresso que trabalha, de forma cada vez mais explícita, contra o povo, agora o brasileiro também precisa se proteger da mídia que deveria, ao menos em tese, cumprir um papel civilizatório. Lamentável, mas não surpreendente.
No campo internacional, a Organização dos Estados Americanos divulgou relatório reconhecendo que houve, sim, tentativa de golpe de Estado no Brasil. As instituições resistiram, a democracia sobreviveu, e isso não é pouca coisa num país com a nossa história. Ainda assim, o fato de precisarmos reafirmar o óbvio já diz muito sobre o grau de degradação política que enfrentamos.
E então veio o gran finale: Silvinei Vasques foi preso. Uma prisão humilhante, patética, quase caricatural. Detido no Paraguai, usando documento falso, tentando seguir para El Salvador. Que fim de carreira vergonhoso. Que cena constrangedora vê-lo algemado, com aquela cara de cachorro que caiu do caminhão de mudança. Um espetáculo que beira o ridículo, mas que teve seu lado pedagógico: ajudou a motivar a prisão domiciliar e o uso de tornozeleira eletrônica por parte de outros tantos golpistas que achavam que tudo acabaria em pizza.
Sobrevivemos a essa semana. Inteiros, atentos e, de certa forma, calejados. Que venha a última semana de 2025. O Brasil pode tentar nos surpreender, mas nós já estamos preparados.
