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Ninguém Vem Nos Salvar

Acho que não devemos esperar que alguém surja de repente, apareça debaixo da nossa dor e salve a nossa vida. E quanto mais vivemos, mais entendemos essa verdade simples e amarga: ninguém vem. Não existe resgate emocional marcado, nem herói preparado, nem colo prometido para nos tirar do fundo do poço.

Durante muito tempo acreditamos no contrário. Fomos criados com a fantasia de que, no auge do sofrimento, alguém chegaria com todas as respostas, com todas as forças, com toda a disposição do mundo para nos puxar para cima. Mas a maturidade essa professora dura e insistente nos ensina que a vida não funciona assim.

A maioria das batalhas é travada no silêncio, na madrugada, dentro do peito, onde ninguém vê. A maioria das decisões que mudam nossa história é tomada entre lágrimas quietas, quando percebemos que continuar depende apenas da gente. E a maioria das curas nasce do momento em que paramos de pedir socorro para o mundo e começamos a erguer os próprios braços.

Não é falta de afeto. Não é orgulho. É realidade. É responsabilidade emocional. É entender que ninguém conhece o nosso abismo tão profundamente quanto nós mesmos e por isso ninguém tem as ferramentas certas para nos tirar dele.

E quando finalmente aceitamos isso, algo muda. Não é que deixamos de amar as pessoas. É que deixamos de entregar a elas o peso de nos manter vivos. E isso, paradoxalmente, é o começo da liberdade.

Porque salvar a nós mesmos não significa caminhar sozinhos. Significa ser protagonista da própria história, mesmo quando ela parece desmoronar. Significa escolher terapia quando tudo cansa, levantar depois das quedas, abandonar vínculos que drenam, reconhecer culpas, corrigir rumos, refazer sonhos. Significa olhar para o espelho e dizer: se eu não me puxar agora, ninguém conseguirá por mim.

E é nesse instante justo nesse que começamos a mudar de verdade. Não porque o mundo ficou mais leve, mas porque nós ficamos mais fortes. Ficamos mais lúcidos. Mais conscientes das nossas dores e do nosso poder.

A vida só começa a se reconstruir quando paramos de esperar o salvador e assumimos o papel de construção. É isso que nos torna sobreviventes, e depois, renascidos.

No fim das contas, descobrimos que não é egoísmo se salvar. É maturidade. É coragem. É o passo que transforma.

Porque ninguém vem. E tudo bem. Nós sabemos e finalmente aceitamos que somos a nossa própria salvação.

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