Notibras

Noite esconde caminho da sucata desenhado a quatro mãos

Som profundo. Barulho surdo de mecanismos internos e inconscientes.
Máquina alquímica instigando neurônios em profusão.
O som do silêncio é desafiador. Mas qual é o nascedouro?
A origem do buraco sem fundo do calar e ouvir? Nada a declarar.
(Gilberto Motta)

Os Homens falavam na TV, em Cadeia Nacional.
Cheios de medalhas no peito varonil.
Eu engolia palavras de ordem e os palavrões…
Enquanto as medalhas deles feriam meu peito juvenil

Hinos encobriam o sol a pino
A noite proibia o dia
O chumbo mirava nossas utopias tropicálias
( Edna Domenica)

Das bocas dentadas com implantes, as palavras desbocadas.
Faces falsas de botox e articulações medonhas de infortúnios e cortes.
(Gilberto Motta)

Nossos parceiros continuam sumidos…
Do meu quarto, vejo vultos
que me espreitam…
Não sei o que alertam:
– calar pra “não morrer novamente” ?
– denunciar tudo o que fizeram aos nossos coetâneos?
(Edna Domenica)

– Das bocas dentadas com implantes, as palavras desbocadas. Faces falsas
de botox e articulações medonhas de infortúnios e cortes.
E lá no fundo o silêncio esperando o momento infinito do não-som.
A hora do cão, o nada absoluto.

“A Caminhonete da Sucata está passando pela sua rua…compramos bagulhos velhos, fogão velho, geladeira velha, sogra velha, rancores velhos, ideias velhas…”.

Os sons estão por toda parte. O anti-silencio é assustador.
Poluição capaz de anestesiar corações e mentes. Ouvidos desenfreadamente dementes.
Antes do verbo o ruído.
E muito antes: o silêncio absoluto.
(Gilberto Motta)

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Sobre os autores
Edna Domenica. Nasceu, cresceu, estudou, trabalhou e se aposentou em São Paulo – SP. Bacharel em Letras, Psicologia e Pedagogia; especialista em Psicodrama e em Atenção à saúde da pessoa idosa, mestre em Educação e Comunicação. desenvolveu pesquisa sobre as aplicações do Psicodrama em oficinas de escrita criativa, parcialmente publicadas em Aquecendo a produção na sala de aula (Nativa, 2001) e de Relógios de Memórias – cartas de uma artesã da escrita (Postmix, 2017). É autora de poemas: Cora, coração (Nova Letra, 2011) e de ficção em prosa: A volta do contador de histórias (Nova Letra, 2011), No ano do dragão (Postmix, 2012), De que são feitas as histórias (Postmix, 2014), As Marias de San Gennaro (Insular, 2019), O Setênio (Tão Livros Editora, 2024). Participou de várias coletâneas das quais ressalta as que comparece como organizadora: Tudo poderia ser diferente, inclusive o título (Amazon e-book, 2022) e Do corpo ao corpus (Rocha Soluções Gráficas, 2022).

Gilberto Motta. Nasceu e cresceu em um pequeno circo-teatro no interior de São Paulo. Formou-se em Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero e foi repórter de rádio e TV, escritor e professor universitário. É professor-mestre e aprendiz da vida. Rodou mundos e, aposentado, vive em 2025, numa cabana que fica numa pequena pousada na Guarda do Embaú, SC. Publicou vários textos nas coletâneas: Tudo poderia ser diferente, inclusive o título (Amazon e-book, 2022) e Do corpo ao corpus (Rocha Soluções Gráficas, 2022).

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