Não somos mais quem costumávamos ser. Aquela garota não sobreviveu e talvez essa seja a verdade que mais dói admitir. Ela acreditava que o amor bastava, que a bondade sempre voltava, que o mundo retribuiria na mesma medida do que ela oferecia. Mas o mundo foi duro, e a vida, implacável.
No entanto, do que parecia fim, nasceu algo novo. Nos tornamos o que veio depois mais quietos, mais atentos, mais conscientes da própria força. Aprendemos que crescer é morrer várias vezes e ainda assim continuar. Que parte de nós precisa partir para que outra parte possa existir.
Não somos mais a garota que aceitava migalhas, que se culpava por sentir demais, que acreditava que precisava ser perfeita pra ser amada. Hoje entendemos que ser inteiro é aceitar as falhas, é acolher a raiva, é chorar sem vergonha e ainda assim ter esperança.
O que veio depois é mais sereno, mas também mais firme. Não implora mais por presença, não busca aprovação, não espera salvação.
O que veio depois caminha com fé mesmo cansado, mesmo em pedaços porque aprendeu que o chão também é parte do caminho. E se há algo bonito nisso tudo, é perceber que sobrevivemos ao que tentou nos apagar.
A antiga versão de nós se foi, mas deixou o que era essencial: a coragem de continuar, mesmo quando não sabemos pra onde.
Somos o que sobrou do caos e, ao mesmo tempo, o que renasceu dele. E isso, por si só, já é milagre.
