“Porque Narciso acha feio o que não é espelho…”
Esse verso da canção “Sampa”, de Caetano Veloso, ilustra de forma certeira o mundo moderno. Sob a égide da “autoconfiança”, sentimento invocado pela maioria das pessoas, revela-se que estas foram muito além do que convencionou-se chamar de “amor próprio”…
Somos seres independentes. “Cada um no seu quadrado”, como diz o dito popular. E o que isso significa, realmente? Intencionalmente ou não, quer dizer que cada um de nós vive em um Mundo separado do resto da humanidade. Que a visão de cada pessoa é diferente dos demais porque vivemos em dimensões diferentes, mesmo que aparentemente estejamos todos convivendo no mesmo espaço…
Por termos uma visão única do nosso Universo, muitas vezes nos colocamos no centro do mesmo. Nada mais justo. Afinal se não nos dermos valor, quem irá, não é mesmo? Além disso, a outra opção não é muito agradável. Embora algumas vezes acabemos por nos ver caindo pelas tabelas…
Bem, e daí? Como podemos sentir a vida com tantas barreiras por nós mesmas impostas? É, por mais estranho que possa parecer, queremos ser notadas… mas acabamos por nos recolher dentro de nosso “casco”, como as tartarugas, com medo da opinião alheia…
Para que as coisas não fiquem tão confusas como estão, vamos definir o que seria, exatamente, “autoestima”…. ou “amor próprio”…
A autoestima, embora pareça um sinônimo para amor próprio, não é exatamente isso na prática. Claro que um jamais existiria sem o outro, mas o amor próprio é uma evolução do primeiro sentimento… e esta evolução tanto pode ser positiva quanto negativa…
Segundo o Censo popular a autoestima tem que cumprir uma série de quesitos para efetivamente se estabelecer em nossa vida.
O primeiro seria sua autoavaliação, onde procuraria entender seus pontos fortes e fracos… a seguir, a autoaceitação, onde a pessoa simplesmente se aceita como é, sem cobranças desnecessárias… a autoconfiança vem complementar essas sensações, com a pessoa crendo que é capaz de enfrentar situações adversas, uma vez que ela conhece… e domina seus pontos fracos… ou, pelo menos, é assim que pensa….
Uma vez satisfeitos esses quesitos, esse sentimento migrará naturalmente para o Amor Próprio. E o que é esse sentimento senão a coroação do primeiro? Afinal, ter Amor Próprio significa, antes de mais nada, amar a si mesmo, reconhecendo seu valor, sua capacidade. É quando você começa a se tratar com a mesma gentileza e generosidade que dispensa às pessoas em seu entorno. É quando você consegue manter um sentimento positivo e carinhoso a si mesmo, não importa quais as circunstâncias externas…
Mas… porém… e sempre há um porém… quando não dosamos corretamente nossos sentimentos, acabamos por extrapolar e os resultados nem sempre serão bons… Amor próprio em demais pode resvalar em narcisismo… parece brincadeira? Infelizmente, não é….
O narcisista, a primeira vista, parece ser uma pessoa bem resolvida da vida, confiante em sua própria capacidade de seguir seu destino… sem depender de ninguém! Ele se vê como autossuficiente, superior a todos a sua volta, pois é especial e único… o narcisista necessita ser elogiado, adulado e tem dificuldades em reconhecer … e compreender… os sentimentos e necessidades alheios…
O narcisista não tem empatia por ninguém e, ao contrário da pessoa com amor próprio, sua autoestima é baixa e necessita ser validada constantemente pelas pessoas em seu entorno. O narcisista é, em essência, uma pessoa manipuladora e exploradora, pois necessita estar sempre em evidência… o desprezo pelas outras pessoas ao seu redor é algo necessário para ele, pois só assim mantém a ilusão de superioridade…
Como já disse alguém certa vez… de perto, ninguém é normal… o TPN – Síndrome de Transtorno Narcisista é uma condição de saúde mental que tem por padrão a necessidade de ser admirado, pois se considera superior a todos os outros… e como já disse, outra característica de uma pessoa narcisista é a falta de empatia para com seus semelhantes… e qual seria a solução? Diagnóstico médico e tratamento com psicoterapia…
Três situações semelhantes, envolvendo nossos sentimentos… e todas diferentes. Mas a vida é assim. Na maioria das vezes trilhamos caminhos escuros sem perceber, pois em nossa mente estamos seguindo uma luz que nos aguarda no final da jornada. E por não estarmos atentas aos passos que damos nesse plano podemos muito bem estar regredindo ao invés de caminharmos para frente…
Nos atentemos às nossas próprias ações. Antes de julgarmos quem quer que seja, passemos pelo fiel da balança nós mesmos. Muitas vezes o problema está em nós e não em nosso entorno. Mas é bem mais difícil julgar quando somos nós que estamos sendo avaliados, não é mesmo?…
