No último Dia das Mães, uma amiga querida — dessas que admiro profundamente como mulher e como mãe — me enviou um vídeo que me atravessou. Era sobre os medos que habitam o coração de toda mãe: o medo de morrer e deixar o filho ainda pequeno; o medo, talvez maior ainda, de ver o filho partir antes da gente. Chorei, claro. Porque a maternidade é feita desse nó na garganta que a gente aprende a disfarçar com sorriso, canção de ninar e café coado no silêncio da madrugada.
Mas, depois do choro, vieram outros medos — os meus — que não estavam descritos no vídeo. E hoje, com o coração ainda apertado, compartilho em forma de pequena reflexão.
Tenho uma filha. Uma menina cheia de vida, futuro e possibilidades. E tenho medo de que, quando ela for mulher feita, precise enfrentar os mesmos retrocessos que já ensaiam seu retorno agora. Medo de que os direitos das mulheres, conquistados com suor, luta e dor, sejam arrancados, um a um, em nome de moralidades seletivas e conveniências políticas. Medo de que ela cresça num país onde ainda se discuta se uma mulher pode ou não decidir sobre o próprio corpo. Medo de que ela ande pelas ruas com o mesmo receio que eu, minha mãe, e tantas outras andamos — medo de ser silenciada, assediada, agredida, apagada. Medo de que o feminicídio vire rotina banalizada, manchete esquecida, estatística fria.
E por essa amiga que me enviou o vídeo — que é mãe de uma criança com Transtorno do Espectro Autista — eu carrego outros medos. Medo de que a sociedade siga estigmatizando pessoas com deficiência. Medo de que sua filha cresça sendo alvo de preconceito, de exclusão, de bullying. Medo de que o mundo não esteja preparado para acolher, respeitar e celebrar a diferença.
O que eu mais desejo, como mãe, é que minha filha cresça num mundo onde não precise se defender apenas por ser quem é. Que possa amar, andar, decidir, errar e recomeçar com liberdade e respeito. Que não precise herdar os medos que carregamos no peito, mas apenas o que temos de mais bonito: a esperança de uma sociedade acolhedora.
