Nesta semana, minha família se reuniu. O que por si só já é um acontecimento digno de crônica e um álbum no Google Fotos. No meio da conversa animada, entre o som dos talheres batendo no prato e as piadas recicladas dos tios, tive a chance de conversar com meus sobrinhos mais jovens. Confesso que adoro essas oportunidades. Conversar com essa geração mais nova é quase uma experiência antropológica.
Eles têm um jeito de ver a vida que é só deles, uma lógica própria, um vocabulário próprio, e uma sensibilidade digital que me deixa sempre um pouquinho desatualizada e um tantinho fascinada. Foi nesse clima de troca geracional que descobri algo que me deixou genuinamente intrigada: alguns adolescentes têm vergonha de usar dinheiro em espécie quando estão com os amigos. Parece que sacar uma nota de dez reais na frente dos colegas é, para alguns, tão constrangedor quanto usar meia branca com sandália.
O uso do cartão e do pix virou símbolo de modernidade, praticidade, fluidez. Tudo muito rápido, sem troco, sem carteira estufada. O dinheiro vivo virou, pra essa turma, quase uma relíquia do passado, tipo CD, DVD e… CPF impresso.
E eu fiquei pensando: se a gente continuar nesse caminho, onde vamos parar? Daqui a pouco, criança vai ter cofrinho com QR Code. Vai perder o dente de leite e mandar chave pix pra fada do dente. E a gente, adultos nostálgicos, vai contar histórias do tempo em que andava com cédulas dobradas no bolso de trás da calça jeans, como quem fala de um passado glorioso que nunca mais voltará.
Não estou dizendo que é ruim. É só… diferente. E conversar com eles me fez perceber o quanto o mundo muda e o quanto a gente muda com ele. Mas confesso: da próxima vez que for pagar um pastel na feira, vou pensar duas vezes antes de tirar uma nota de 50 da bolsa. Vai que algum sobrinho meu está por perto e me acha cringe.
