Nestes dias me deparei, infortunadamente, com uma infinidade de “informações” na mídia digital sobre os possíveis motivos do término do relacionamento entre a influencer Virgínia Fonseca e o cantor Zé Felipe, cujas teorias desenvolveram-se tanto em torno da eventualidade da ocorrência do desamor, quanto em razão de suposta infidelidade conjugal. Foi quando, então, rememorei que, de fato, vivemos numa sociedade produtora e consumidora de barulhos digitais infernais, provenientes de opiniões e ideias que buscam difamar em larga escala, na internet, pessoas ou empresas em razão de alguma declaração, atitude ou qualquer outra forma de conduta tomada por parte delas. Tal fenômeno midiático é conhecido, segundo Byung-Chul Han, como Shitstorm (de uma forma literal, como tempestade de dejetos).
Esse fluxo comunicativo digital simétrico – onde todos são simultaneamente remetentes e destinatários – concorreu para desintegração e vulgarização generalizada dos valores, respeito, cultura e linguagem (HAN, p. 38, 2018).
Certo é que, as mensagens eletrônicas equivalentes e desmediatizadas (sem necessidade de serem dirigidas ou filtradas por meio de intermediários) amplificaram de modo significativo a quantidade de informações superficiais, desnecessárias e anacrônicas (Idem, p. 37, 2018) a exemplo da matéria jornalística sobre a vida privada destas personalidades “públicas”.
A sua temporalidade é o presente imediato, razão pela qual a utilização de uma instância intermediária interventora é vista como uma forma de congestão de tempo e de informação (Idem, p. 35, 2018).
O shitstorm, apesar de ser eficiente em mobilizar e compactar a atenção, produz ondas de indignação fugidias, inconstantes e amorfas, que se inflam repentinamente na forma de escândalo e se desfazem em igual velocidade (Idem, p. 21 a 22, 2018), uma vez que não lhe permitem formar qualquer diálogo que, por sua vez, elevaria o exercício da cidadania.
Enfim, diante dessas massas de informações não informativas, mas cumulativas (Idem, p. 106 a 107, 2018), decidi buscar o tão necessário silêncio mental nas bibliotecas ou livrarias por meio das vozes literárias (acervo físico), as quais são, ao meu ver, abençoadamente mudas no plano material/externo, com o fito de fazer valer a minha liberdade de percepção daquilo que seria o essencial para o desenvolvimento da autodeterminação pessoal, já que, nessa cultura digital, a narrativa perder-se-ia significativamente na “nuvem” que armazena e gerencia a repetição dos mesmos dados ou informações e tenta a todo custo uniformizar um tipo de comunicação ruidosa, porém, infelizmente, não comunicativa.
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Referências: Han, Byung-Chul. No enxame: perspectivas do digital. Trad: Lucas Machado. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2018.
Sandra J. M. Villaverde (Instagram: @profsandra.villaverde) é professora universitária e advogada criminalista no Rio de Janeiro – RJ.
