Cavalcante, no coração da Chapada dos Veadeiros, vive um espetáculo que mistura coronelismo com novela mexicana de quinta categoria. O prefeito Vilmar Kalunga (PSB) parece ter confundido a prefeitura com um cofre de família — daqueles de madeira antiga, trancados a cadeado, onde cabem esposa, irmãos, primos, cunhados, sobrinhos e até os compadres que nunca dizem “não” ao poder.
Ali, nepotismo não é exceção, mas método de governo. Quem sobe a serra em busca de energia mística e cachoeiras paradisíacas não imagina que, do outro lado, há uma praga que corrói as estruturas da democracia. A praga do compadrio, da parentada enfiada nos cargos mais estratégicos, do “quem indica” valendo mais que concurso ou mérito.
O Ministério Público de Goiás ensaia um passo, mas parece que as pedras da Chapada pesam mais que a lei. Há forças ocultas — e nem tão ocultas assim — segurando a mão da Justiça, como se fosse pecado mexer com os currais de Kalunga. O prefeito age como um coronel nordestino do século passado, mas está a poucos quilômetros do Planalto Central. Brasília pode até viver de discursos sobre ética e governança, mas basta uma curva na estrada para que o Brasil profundo mostre sua face mais atrasada.
Cavalcante, que deveria ser símbolo de preservação ambiental e turismo consciente, virou laboratório de nepotismo explícito. E o mais grave: com a conivência silenciosa de quem deveria fiscalizar. O que se passa por lá não é apenas um caso de província; é um sintoma de como a República ainda engatinha quando o assunto é acabar com velhas práticas.
Está mais do que na hora de derrubar esses currais eleitorais disfarçados de prefeitura. Chega de prefeitos que se acham donos da cidade, como se governar fosse herança de família ou capitania hereditária. A Chapada merece respeito, e não o deboche de um poder local que transforma nepotismo em política de Estado.
……………………….
Carolina Paiva é Editora do Quadradinho em Foco
…………..
Texto alterado às 13h12 para acréscimo de informação (o partido ao qual é filiado o prefeito)