Desde o início desta semana tenho acompanhado, com indignação e tristeza, a repercussão em torno da fala da vereadora Elisabeth Maciel (Republicanos-AM), durante sessão na câmara municipal de Borba-AM. Ela disse ser favorável à violência contra a mulher. É duro de acreditar que uma representante eleita, que deveria trabalhar pela defesa da dignidade humana, profira palavras tão violentas, ainda mais em um país que carrega números alarmantes.
Entre janeiro e julho deste ano, mais de 86 mil denúncias de violência contra a mulher foram registradas no Disque 180. Em 2024, 1.450 mulheres foram vítimas de feminicídio. Esses dados não são apenas estatísticas frias: são vidas interrompidas, famílias devastadas, histórias cortadas pelo machismo que insiste em se justificar e se normalizar em nosso cotidiano.
A fala da vereadora não foi apenas infeliz; foi ela própria uma violência. Uma violência simbólica contra todas as mulheres que lutam diariamente apenas pelo direito de viver sem apanhar, sem medo, sem precisar negociar sua sobrevivência. Foi uma violência contra os movimentos sociais, contra as mães, as filhas, as irmãs que choram suas mortas, contra todas que carregam no corpo e na alma as marcas dessa estrutura cruel.
O que me inquieta é perceber como ainda há quem tente dar legitimidade a esse discurso. O Brasil precisa enfrentar a violência de forma séria, estruturada, sem tolerar que ela seja defendida em tribunas públicas. Precisamos de políticas que protejam as mulheres, que garantam segurança, justiça e igualdade, não de falas que reforcem o ciclo de opressão.
Eu sigo acreditando que o combate à violência contra a mulher é inseparável da luta pela democracia e pelos direitos humanos. Ficar em silêncio diante de falas como essa seria, para mim, uma omissão imperdoável.
