Há quem diga que o destino está escrito nas estrelas; outros acreditam que ele repousa, silencioso, na palma da nossa mão. Quando uma cigana se aproxima e pede para lê-la, o ar parece mudar de densidade. Entre os panos coloridos, o cheiro de incenso e o tilintar de pulseiras, ela decifra os caminhos invisíveis que o tempo deixou gravados na pele — linhas que se cruzam como rios secretos, contornando montanhas e vales do espírito.
A linha da vida, segundo os antigos, guarda o fôlego da nossa jornada. Já a linha do destino revela os encontros inevitáveis, as curvas que não podemos evitar. A cigana, com olhos de quem já viu séculos passarem sob as mesmas estrelas, desliza o dedo sobre esses traços e murmura presságios. Mas o que ela vê não é um futuro fixo — é apenas a dança das possibilidades, um reflexo do que já pulsa dentro de nós.
Cada dobra da mão é um mapa sagrado. Cada cicatriz, um símbolo de aprendizado. E o destino, esse mestre invisível, não é um tirano, mas um companheiro. Ele se molda aos nossos gestos, muda de rumo conforme nossa coragem. Quando acreditamos que algo é inevitável, damos poder ao que poderia ser apenas uma sombra de escolha.
A leitura da mão é, portanto, um espelho: revela o que trazemos nas profundezas, mais do que o que virá. A cigana lê, mas quem realmente escreve é o próprio ser — com suas decisões, seus medos e seus amores.
No fim, o destino não está diante de nós, mas dentro. E a cigana, com seu olhar misterioso e sorriso de enigma, apenas nos devolve a verdade que teimamos em esquecer: o futuro começa agora, no instante em que abrimos a mão.
Cabe observar, como dizem os mestres do invisível, que as mãos guardam a memória de outras vidas. Que nelas repousam ecos de promessas antigas, amores interrompidos e caminhos que se repetem até que o espírito compreenda sua lição. A cigana, ao tocar a pele, sente o pulsar de muitas existências — e é nesse instante que o véu entre o visível e o eterno se desfaz.
Cada linha é um fio de energia que nos conecta ao Todo. Somos fragmentos de uma constelação maior, viajantes que retornam, vida após vida, para corrigir rumos, cumprir pactos e reacender a chama da evolução. O destino, então, deixa de ser um fardo e se torna uma melodia — escrita pelo cosmos, interpretada pela alma.
Assim, ao estender a mão à cigana, estendemos também a mão ao universo. Pedimos que nos mostre o caminho, mas o caminho, em verdade, sempre esteve ali: traçado em luz, entrelaçado ao mistério, esperando apenas que o reconhecêssemos.
Porque o destino, em sua sabedoria silenciosa, não é o que vai acontecer. É o que já vibra dentro de nós — aguardando o momento certo para despertar.
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Anabelle Santa’cruz é Editora de Oráculos
