Notibras

O drama seco do mês de Agosto do brasiliense

Chegou agosto, o chefe supremo da secura, o ditador do ar parado, o algoz dos narizes sensíveis. É o mês em que Brasília decide nos colocar à prova: só os fortes sobrevivem sem enlouquecer.

Em julho eu ainda me iludo. Acordo, olho pela janela e penso: “Tá tranquilo, tá favorável. Eu aguento mais uma temporada dessa secura, sou guerreira”. Mas aí chega agosto, e a máscara cai. Nariz sangrando, cabeça latejando, olhos ardendo como se eu tivesse passado a noite chorando sem parar. E olha que às vezes até choro mesmo, mas é pela falta de chuva.

Agosto é um mês ingrato. São tantos dias sem ver uma nuvem carregada que eu começo a suspeitar que a chuva se mudou de vez, foi procurar um lar melhor, onde é valorizada. A umidade do ar desce a níveis que fariam o Saara pedir socorro. A cada manhã, quando acordo com a garganta mais seca que coração de ex-namorado, eu penso: “Não dá mais, Senhor, manda água do céu, uma garoa que seja, um chuvisco, um sereno de madrugada, qualquer coisa!”.

E é assim, todos os anos. Agosto mexe com a saúde mental do brasiliense. A gente perde a paciência, o bom humor, a esperança. Tem hora que eu já não sei se preciso de um umidificador de ar ou de um padre pra fazer uma novena pedindo chuva.

Mas a gente segue. Suportando o sol impiedoso, engolindo pó e rezando para que setembro traga, junto com as flores, a tão sonhada primeira tempestade. Porque, olha, sobreviver a agosto em Brasília não é pra amadores. É pra quem já fez pacto com o deserto e ainda assim insiste em sorrir.

Sair da versão mobile