Notibras

O escritor Antonio Gil Neto abre o baú e conta sua trajetória

O entrevistado de hoje é o autor Antonio Gil Neto, paulista de Taiaçu, mas que construiu carreira profissional em São Paulo, onde trabalhou na educação pública, além de se atuar em projetos de formação de educadores e em publicações didáticas, vinculadas ao ensino da língua portuguesa.

Fale um pouco sobre você, seu nome (se quiser, pode falar apenas o artístico), onde nasceu, onde mora, sobre sua trajetória como escritor.

Sou Antonio Gil Neto, nasci numa pequena cidade do interior paulista – Taiaçu. Graduei-me em Pedagogia e Letras e morei mais de 50 anos em São Paulo, onde construí minha carreira profissional na área da educação pública. Na área de publicação, comecei escrevendo livros didáticos sobre o ensino da nossa língua. Cheguei a publicar dois livros sobre a vivência escolar e, num deles, tive alegria maior de contar com a apresentação da obra pelo nosso amado Paulo Freire. Em paralelo, sempre cultivei projetos de escrita de contos e poesias que guardava como um tesouro escondido. Tive um blog no Programa Escrevendo o Futuro (Cenpec) e nele escrevia os mais variados gêneros textuais para professores de todo o nosso país. Em parceria com o escritor Edson G. Garcia, escrevi e ilustrei dois livros de literatura infantojuvenil pela Editora Cortez: “A flor da pele” e “Cartas marcadas”. Também fui organizador e autor de um livro de memórias sobre a educação municipal paulistana: “A memória brinca – uma ciranda de histórias
do ensino municipal paulista”, pela Ed. Imprensa Oficial/SP. Por ocasião da pandemia, quando ficamos mais resguardados, revisitei meus escritos criados ao longo do tempo, desde os meus 16 anos. A partir daí, publiquei cinco livros de poesia: “Inéditos inexatos: uma coleção de água e vidro” (Ed. Folheando); “Sem saber o amor”(Ed. Primata); “Desertos, pássaros, quintais” (Caravana Editorial); “Silêncios, seus estilhaços de seda” (Ed. Folheando) e mais atualmente “Água, pedra, flor’ (Mondru editora).

Como a escrita surgiu na sua vida?

Talvez não saiba precisar bem quando a escrita se instalou na minha vida. Acredito que tenha sido algo natural para mim. Como quem aprende a andar, a dançar, a tocar um instrumento. Lembro-me bem da alegria intensa que tinha quando aluno das primeiras letras ao escrever histórias baseadas em um quadro que a professora colocava diante de nosso olhar criador. Sempre tive retorno positivo dos meus escritos a partir desses primeiros escritos. Acho que foi assim que ela chegou e assim ficou. Como algo especial da vida. Um outro respirar…

De onde vem a inspiração para a construção dos seus textos?

A inspiração é uma constante. Geralmente são acontecimentos aparentemente simples que o olhar e nossa sensibilidade captam do cotidiano, das experiências do dia a dia, do inusitado. Uma especial e valorosa fonte de inspiração para mim são as memórias que brotam na alma da gente e nos impulsionam às suas luzes, refletir o presente, seus desdobramentos para o futuro. Um detalhe de uma conversa, um aspecto aparentemente sem importância, um vislumbre, uma imagem singular, uma conversa encantadora, um poema arrebatador podem ser lindas inspirações a gerarem textos.

Como a sua formação ou sua história de vida interferem no seu processo de escrita?

Com meus estudos em Pedagogia tive maior oportunidade de lidar com os aspectos do ensino e da aprendizagem, o que foi base na minha vida profissional e também da minha atividade criativa no que concerne aos processos de escrita. Com os conhecimentos advindos da formação em Letras, aprendi a lidar melhor com a palavra, compreender melhor a escrita e, em especial, a Arte Literária que passaram a ser mais do que importantes na minha vida. Pude ler tantos autores maravilhosos, obras inesquecíveis que me fizeram conhecer melhor o lugar do autor. Lembro-me bem que também fiz curso de formação de atores, o que me acrescentou experiência valorosa na expressão. No mais, guardo intactas tantas lindas memórias da minha vida interiorana – de criança e adolescente –, o que me enriquece a reconstruir algo poético no meu trabalho de escrita.

Quais são os seus livros favoritos?

Difícil dizer, mas para mim os favoritos são os que estiver lendo no momento. O que me vem à cabeça agora são: “Para o meu coração num domingo”, Wislawa Szymborska, “Um artista do mundo flutuante”, Kazuo Ishiguro, “Agência de viagens”, Krystyna Dabrowska.

Quais são seus autores favoritos?

Falo alguns, pois admiro muitos: Adélia Prado, Fernando Pessoa, Clarice Lispector, Drummond, João Cabral, Manuel de Barros, Guimaraes Rosa, Machado de Assis, Ana Cristina Cesar, Mario Quintana, …

O que é mais importante no seu processo de escrita? A inspiração ou a concentração? Precisa esperar pela inspiração chegar ou a escrita é um hábito constante?

Sem a inspiração, talvez não houvesse a concentração. Para mim, a inspiração é a matéria-prima, e a concentração é a própria lida com as palavras. Ambas têm a sua importância, sua razão de ser, não é? Se completam, digamos assim. Ultimamente, escrever tem sido uma atividade habitual na minha vida. Dedico um tempo diário para ler, ficar à toa, vislumbrar o mundo. Acho que aprendi a ter abertura para a inspiração, que é algo que tenho cultivado desde muito tempo. Sinto assim. Aí entra o processo de escrita propriamente dito, lidar com as palavras, seu jogo mágico e laborioso: escrever, reescrever, reescrever e dar conta do árduo trabalho de finalizar os textos.

Qual é o tema mais presente nos seus escritos? E por que você escolheu esse assunto?

Nos meus últimos livros tenho uma gama de temas que aparecem em agrupamentos. Trago nos poemas uma gama dos sentimentos humanos que vivenciamos a cada dia, aspectos ligados à Natureza e algo da arquitetura poética. Também assuntos que são gerados a partir das memórias vividas. A bem da verdade, não escolhi de antemão esses assuntos. Eles se achegaram silenciosamente, fui acolhendo-os nos meus projetos de escrita, e estão lá oferecendo-se aos olhos generosos de cada leitor.

Para você, qual é o objetivo da literatura?

Para mim, o objetivo maior da literatura é humanizar o ser humano, melhor dizendo, dignificá-lo. Além de ser fonte de prazer, emoção, entretenimento, a leitura da literatura tem o poder de fazer o leitor pensar naturalmente, recriar a realidade e aprimorar o senso crítico, tão essencial, bem como a imaginação e a sensibilidade. Não consigo ver o mundo, um povo sem a sua Arte Literária. É vital como é a Natureza. Por ela, vamos compreendo melhor o mundo e a nós mesmos.

Você está trabalhando em algum projeto neste momento?

Acabei de publicar o meu quinto livro neste ano, o “Água, pedra, flor”, e estou com um novo projeto do sexto livro de poesia. Este foi totalmente escrito durante este ano. Os demais sempre tiveram poemas escritos ou reescritos guardados de outros tempos. Também devo dizer que vou participar de um evento em final de outubro, o Projeto Arte e Literatura da USP 60+ em São Paulo. Trata-se de um exposição com obras literárias de vários gêneros, bem como de pintura e fotografia com autores classificados para esse evento num concurso de 2025. Participarei com um conto: “Muitas flores para Dona Rosita”, delicada história que contempla a solidão na velhice, bem como a coragem de buscar um novo afeto, mesmo quando o amor parece surgir em um estágio inesperado da vida. Quem sabe não poste mais adiante esse conto por aqui, não é?

Será um enorme prazer para nós do Café Literário, bem como para nossos leitores. Qual a sua avalição sobre o Café Literário do Notibras?

Estou conhecendo faz pouco tempo o Café LiterárioNotibras. Quem me apresentou esse espaço tão bonito, valoroso, democrático que congrega tantos escritores talentosos foi um grupo de amigos e ótimos escritores de Florianópolis: a Edna Domenica Merola, o Cassiano Silveira, a Rosilene Souza, a Marlene Nobre, o Gilberto Motta. Acho muito importante e necessário um espaço como este: pessoas que investem em criadores da Arte Literária nos seus mais variados gêneros, tão fundamentais para a democracia e para a cultura do nosso país. Por isso, reverencio toda a equipe do Notibras por este feito. E como já bem disseram: vida longuíssima ao Café Literário!!!

Tem alguma coisa que eu não perguntei e você gostaria de falar?

Vou deixar meus contatos, para os leitores que quiserem alguma informação ou enviar alguma mensagem, sobre qualquer assunto. Ficarei mais que feliz se isso acontecer!

Vale dizer que é mesmo muito bom o Café Literário possibilitar a nós autores maior visibilidade e assim ampliar nossos olhares leitores.

Super obrigado!

E-mail: antoniogneto@uol.com.br

Instagram: https://www.instagram.com/267gil/

Facebook: https://www.facebook.com/antonio.g.neto.71

Breve bio:

Antonio Gil Neto nasceu em Taiaçu, interior paulista. Graduou-se em Pedagogia e Letras. Mudou-se para São Paulo, capital, onde construiu sua carreira profissional na Educação pública. Em paralelo, atuou em vários projetos de formação de educadores e em publicações didáticas, vinculadas ao ensino da nossa língua.

Escreveu livros de literatura juvenil: “A flor da pele” e “Cartas Marcadas” (Ed. Cortez). Também é organizador/autor de “A memória brinca: uma ciranda de histórias do ensino municipal paulistano” (Imprensa Oficial).

Publicou recentemente poesia: “Inéditos, inexatos – uma coleção de água e vidro” (Ed. Folheando), “Sem Saber o Amor” (Ed. Primata), “Desertos, pássaros, quintais” (Caravana editorial), “Silêncios, seus estilhaços de seda”(Ed. Folheando) e neste ano “Água, pedra, flor” (Mondru Editora).

Atualmente mora em Ribeirão Preto, SP. Dedica-se a viajar, ao imprescindível das leituras, a (re)escrever com alegria tantos escritos criados ao longo do tempo.

Sair da versão mobile