Na praça onde crianças brincavam, pessoas passeavam com seus cachorros, homens faziam encontros de motos e outras mil coisas aconteciam, existia um homem solitário.
Esse homem estava sempre deitado ou sentado no mesmo lugar e no mesmo banco, era como se ali fosse sua casa. Dormia na praça todas as noites, durante o dia trabalhava na sua moto para ganhar algum trocado.
Ele estava acima do peso e com um problema na perna, a falta de estrutura fazia com que esses problemas se agravassem dia após dia. O homem não tinha condições de mudar aquela situação, então sentado massageava sua perna dolorida e ouvia alguma coisa no celular com seus fones de ouvido.
A situação era ruim, ele fazia ficar menos pior do jeito que conseguia.
Ganhava muito pouco com as entregas de moto, não tinha condições de alugar uma casa e nem de morar com alguém. Era sozinho na cidade, por isso acabou indo morar naquela praça. O pouco que tinha comprava pão e umas bolachas, essa alimentação não ajudava nada com seus problemas de saúde.
Ele sabia disso tudo, só que não havia forma das coisas melhorarem, pelo contrário existia a possibilidade de ficarem pior. Com tudo isso na mente ele aceitava essa condição, tentava amenizar o problema que era estar vivo em um sistema tão injusto.
Emprego não iria mais conseguir, ninguém contrataria um homem obeso com problema sério na perna. O dinheiro que tinha, era o que conseguia com as entregas de moto, e comida servia apenas para enganar a fome.
Um contraste dentro da cidade, pois a praça era frequentada por pessoas com condição financeira boa. As vezes o que gastavam com seus cachorros era mais do que o pobre homem ganhava em um mês sofrido de trabalho.
A figura daquele homem sofrido já havia se tornado paisagem para os frequentadores da praça, para ele aquelas pessoas também só estavam de passagem.
Num lugar onde as coisas são conquistadas pelo mérito, ser uma pessoa sofrida e sem condições de viver bem é ser um fracassado. Aquele homem era nada menos que um exemplo para os filhos dos frequentadores da praça, um exemplo de que como sem esforço a vida poderia ser ruim.
Mentes doutrinadas a pensar desse jeito acabavam por cegar os próprios olhos para a realidade. Ninguém analisava a estrutura que levou o homem aquela situação, olhavam apenas o recorte que interessava para valorizar seus ganhos injustos.
Logo o homem estaria entregando comidas que jamais poderia comprar, em apartamentos que jamais poderia morar, par as pessoas que jamais pararam para pensar nisso tudo.
Nesse lugar vivia o homem da praça.
