Notibras

O mergulho e o abraço do silêncio no fundo que agora me habita

Quando mergulhei,
não foi só a água que me envolveu.
O silêncio me abraçou primeiro
– aquele que não assusta, mas acalma.
Aquele que não esconde, mas revela.

Fui descendo lentamente, como quem retorna.
Como quem ouve um chamado antigo.

Ali, entre seres que voam sem asas,
eu desaprendi o peso. O corpo
flutuava, mas era a alma que se aliviava.

Passei por jardins que dançavam sem pressa,
e cada cor tinha um som,
cada forma, um sopro de eternidade.
As pedras rendadas me contaram segredos
mais antigos que o tempo.
Não precisei entender. Bastou sentir.

Não havia pressa nem promessa.
Apenas um convite:
repousar o olhar no invisível.
O mar me envolveu o que o mundo havia soterrado em mim.

Fui abrindo os olhos por dentro.
E no reflexo das águas,
vi meu contorno se transformar.
Não era sereia nem espuma
– era raiz, era essência, era o próprio azul.

Quando voltei à superfície, não deixei o fundo.
O fundo agora me habita.

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Blog da autora Luísa Nogueira: https://www.luisanogueiraautora.com.br/

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Notas de escrita

A prosa poética “O mar sou eu” nasceu do mergulho feito na construção do poema “Essência submersa”. Este poema, por sua vez, emergiu a partir de “No fundo do mar”, texto do meu primeiro livro de poesia, o “Acalanto: Sou pássaro e poesia/Sou canto e acalanto”. Trata-se de um reencontro comigo mesma – e com o silêncio envolvente da criação.

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