Em pleno interior de Minas Gerais, na pequena cidade de Cataguases, um grupo de jovens ousados decidiu desafiar a rotina provinciana e abrir espaço para a vanguarda artística que agitava o Brasil nos anos 1920. O resultado foi a Revista Verde, um periódico mensal dedicado à arte e à literatura que, apesar de vida curta, deixou marcas profundas na história cultural do país.
Lançada em setembro de 1927, a revista circulou até janeiro de 1928 e teve ainda uma edição especial em maio de 1929. Foram apenas seis números, mas suficientes para colocar Cataguases no mapa do modernismo brasileiro.
À frente do projeto estavam nomes como Henrique de Resende (diretor), Antônio Martins Mendes e Rosário Fusco (redatores), acompanhados de uma equipe que reunia Ascânio Lopes, Camilo Soares Filho, Christophoro Fonte Boa, Francisco Inácio Peixoto, Guilhermino César, Oswaldo Abritta e Renato Gama. Juntos, eles formaram o chamado Movimento Verde, que queria romper com o conservadorismo cultural e dar voz a novas ideias.
Embora nascida no interior, a Revista Verde rapidamente se conectou ao coração do modernismo. Suas páginas trouxeram colaborações de gigantes da literatura nacional, como Mário de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Aníbal Machado, Antônio de Alcântara Machado, Sérgio Milliet, Augusto Frederico Schmidt, Ribeiro Couto, Prudente de Morais Neto, João Alphonsus, Godofredo Rangel e Marques Rebelo. Um verdadeiro diálogo entre Cataguases e os grandes centros culturais do Brasil.
O ambiente de efervescência cultural da cidade também se estendia para além da literatura. O grupo mantinha contato próximo com Humberto Mauro, cineasta pioneiro do cinema nacional, que na época vivia em Cataguases e produzia alguns de seus primeiros filmes. Essa intersecção entre literatura e cinema fez da cidade um polo de inovação cultural nos anos 1920.
A trajetória da revista, no entanto, foi interrompida de forma abrupta. A morte precoce de Ascânio Lopes, aos 22 anos, desarticulou parte do grupo e contribuiu para o fim do projeto. Ainda assim, a experiência deixou um legado simbólico: mostrou que a modernidade não se limitava às capitais, mas podia brotar também em cidades do interior, impulsionada pela paixão de jovens sonhadores.
Quase um século depois, a Revista Verde continua sendo lembrada como um marco do modernismo mineiro e um exemplo da força criativa que floresceu fora dos grandes centros urbanos.
