Notibras

O PAÍS DOS JABUTIS/TUBARÕES

Descompasso.

Vivemos o contexto de um eterno bolero desesperadamente trágico. Lisérgico e epilético.

Para frente, para trás, dois pra lá, dois pra cá.

E assim teimosos, seguimos.

Na espinha, a faca pontiaguda e no estômago e vertigem nauseabunda de uma imperdoável quebra de salto.

E a orquestra segue tocando enquanto o navio afunda.

Antimetáfora

O Mestre e seus seguidores caminhavam entre prédios de arquitetura futurista em uma região pouco conhecida por eles.

Pararam e perguntaram a um homem de terno e gravata que, acocorado, procurava por algo em uma boca de lobo no asfalto.

Perguntou-lhe, o Mestre: “O que fazes, homem?”.

“Procuro jabutis e tubarões. E daí?…isto é problema meu, tá! Circula, se manda!”.

O Mestre concordou com a cabeça, olhou para os discípulos e seguiu pela esplanada.

Mais tarde, um seguidor perguntou-lhe o que aquela conversa significava. O Mestre pensou e respondeu-lhe:

“Lugar estranho; enigmas assim nunca vi: jabutis não sobem em árvores, tubarões não usam coleiras e nem vivem entocados em boca de lobo. Não faz sentido”.

Seguiram até a frente de um complexo com dois enormes edifícios e um retangular térreo com duas espécies de xícaras sobre o teto, uma delas virada para baixo.

O Mestre apenas balbuciou:

“Aqui é a fábrica de leis, a Casa da tia Joana”.

Jamais retornaram ao local, à cidade e ao país.

………………………….

Gilberto Motta é escritor, jornalista, professor/pesquisador. Vive na Guarda do Embaú, vilarejo do litoral de SC.

Sair da versão mobile