O panteísmo é o sistema de crença daqueles que sustentam/defendem que a totalidade do universo é o único Deus. Esta cosmovisão e, simultaneamente, doutrina filosófica afirma que o Universo inteiro, a Natureza e Deus são a mesma coisa. Noutros termos, a existência, e tudo o que foi, é e será, pode ser representada através da noção teológica de Deus. Assim, a concepção de que o divino se manifesta em toda a realidade cósmica, ocupa lugar central nas crenças pagãs antigas e encontra continuidade no pensamento religioso contemporâneo da Wicca, que concebe o Cosmo como a manifestação do sagrado. Na prática pagã, isso implica uma espiritualidade profundamente integrada à terra, aos ciclos naturais e aos Elementos da Natureza.
Nas religiões pagãs da Antiguidade, como a greco-romana, a celta e a egípcia, a presença do divino na natureza era evidente. Montanhas, rios, astros e animais eram compreendidos como manifestações da divindade, reverenciada por meio de ritos e oferendas. Entre os celtas, por exemplo, os bosques eram templos vivos; entre os egípcios, o deus-sol Amon-Rá se confundia com o próprio cosmos. A filosofia estoica levou essa concepção a um nível mais elaborado, ao afirmar que o universo é animado pelo Logos, princípio racional e divino que governa o cosmos.
No Egito Antigo, apesar da multiplicidade de deuses, o deus solar Aton representava a essência de toda a criação, unificando o divino com o universo visível. Essa tendência também se encontra no hinduísmo védico, em que Brahman é compreendido como realidade última imanente e transcendente, aproximando-se de um panteísmo filosófico.
Entre os povos ancestrais americanos, a sacralidade da natureza também se refletia em práticas religiosas panteístas. O culto aos bosques sagrados, às águas e às pedras revelava uma percepção da imanência do sagrado na matéria. A própria figura da deusa-mãe, símbolo da fertilidade e da terra, evidencia a identificação entre divindade e natureza.
Em muitas religiões tradicionais africanas, a relação entre o divino e o mundo natural é vista de forma integrada, com a natureza sendo considerada sagrada e habitada por forças espirituais.
Todavia, o panteísmo pagão difere do monoteísmo por rejeitar a separação entre criador e criatura. Enquanto no cristianismo e no judaísmo o divino é distinto da criação, no panteísmo o cosmos é o próprio corpo divino. No entanto, o panteísmo não deve ser confundido com o politeísmo. Embora muitas religiões pagãs cultuassem diversos deuses, esses eram frequentemente compreendidos como manifestações de uma força única e universal.
Para os wiccanos, a divindade manifesta-se tanto na polaridade do Deus e da Deusa quanto em todas as formas de vida. Essa concepção é simultaneamente politeísta e panteísta, pois os deuses são múltiplos e autônomos, mas também expressam a unidade cósmica do Todo. Um dos aspectos mais panteístas da Wicca é a sua ênfase nos ciclos da natureza, celebrados nos sabbats (solstícios, equinócios e festivais sazonais). Tais ritos não apenas marcam a passagem do tempo, mas reafirmam a identidade do divino com a própria terra. A roda do ano simboliza, portanto, a interpenetração entre deuses, natureza e humanidade, em um movimento contínuo de morte e renascimento.
Do ponto de vista esotérico, o panteísmo nas crenças pagãs estabelece uma visão unitária da realidade, em que o ser humano é parte integrante do cosmos divinizado. Esse princípio foi herdado por correntes herméticas, alquímicas e pela própria magia renascentista, nas quais o Universo é concebido como um “livro vivo” no qual o divino se manifesta em todas as coisas.
Assim, o panteísmo pagão não se resume a uma mera filosofia da Natureza, mas constitui uma verdadeira espiritualidade cósmica, na qual não há fronteiras rígidas entre Homem, Natureza e Divindade. Ao contrário do modelo transcendente das religiões monoteístas, o panteísmo entende o mundo visível como a expressão imediata do sagrado, numa visão integrada do ser e da totalidade.
E você, qual a sua opinião sobre a existência de um Único Deus Universal?
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Hussein Sabra el-Awar é membro Conselheiro do Colégio dos Magos e Sacerdotisas
@colegiodosmagosesacerdotisas
