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O que não contam é que a verdade nem sempre é inteira

As relações humanas são feitas de camadas, e o que chega aos ouvidos dos outros é sempre uma versão recortada, quase nunca a verdade inteira. Um dia alguém pode falar mal de mim e certamente já falou. Acontece com todos. O que ninguém diz, contudo, é que antes desse momento de ruptura houve também um tempo em que fui essencial, em que fui chamado de amigo, amor, companheiro, em que ocupei o lugar de porto seguro.

Mas essa parte não rende fofoca. Ninguém comenta o quanto você já foi luz na vida de alguém que agora o descreve apenas como sombra. Não contam que houve risadas, confidências, partilhas. Não dizem que, por um tempo, você foi exatamente o que o outro precisava.

O problema é que a memória afetiva é seletiva: guarda os ressentimentos e apaga os encantos. E assim a história fica torta, contada pela metade, com o peso de acusações que não trazem junto o contexto da entrega que existiu.

A vida é feita de fases, e talvez a grande injustiça seja essa: não sermos lembrados pelo todo, mas pelo pedaço que não funcionou. Eu mesma já estive dos dois lados já falei, já ouvi, já calei. E entendo que somos contraditórios, falhos, imperfeitos.

No fundo, tudo se resume a isso: cada um fala a partir da dor que carrega. O que resta a mim é não me perder em versões. Sei quem fui, sei o que ofereci, sei os momentos em que minha presença foi celebrada e não descartada. O resto é ruído. E aprendi que só quem esteve de verdade sabe a verdade.

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