Aproveitemos cada momento com quem amamos, porque o tempo não volta e a vida é feita de despedidas inesperadas. Nós costumamos viver como se houvesse sempre um depois disponível, como se o afeto pudesse ser adiado sem custo. Guardamos palavras para outra hora, abraços para outro dia, presenças para quando a vida desacelerar. Mas a vida não avisa quando acelera para o fim de um capítulo.
O tempo não é pedagógico; ele é factual. Ele passa. E passa indiferente às nossas promessas internas de que “depois a gente resolve”. José Saramago já nos ensinou que a vida é breve demais para adiamentos morais. O que não dizemos hoje, muitas vezes, não encontra mais ouvidos amanhã. O que não cuidamos agora pode não estar mais ali quando decidirmos cuidar.
Nós aprendemos isso quase sempre pelo choque. Uma ausência repentina, uma distância irreversível, uma notícia que interrompe a rotina. A despedida raramente é combinada; ela acontece. E é nesse momento que entendemos que o cotidiano era o essencial. Que o banal era precioso. Que o amor não mora nos grandes gestos, mas na constância silenciosa.
A literatura insiste nesse aviso porque a experiência humana insiste em ignorá-lo. Clarice Lispector escreveu como quem sabe que viver é perigoso justamente porque não há garantias. Amar alguém é aceitar essa instabilidade radical: estar hoje sem a certeza de amanhã. E, ainda assim, escolher estar.
Nós também precisamos dizer que despedidas não significam fracasso. Elas fazem parte da condição humana. Albert Camus nos lembra que a lucidez não elimina a dor, mas nos impede de viver no automático. Saber que tudo pode acabar não nos paralisa; nos responsabiliza. Torna cada encontro um ato consciente, cada presença uma escolha.
Por isso, que fique como aprendizado coletivo: não esperemos a perda para valorizar. Não transformemos o amor em economia emocional. A vida continua quando aprendemos a estar inteiras no agora, a dizer o que precisa ser dito, a tocar como quem sabe que aquele instante não se repete. Porque o tempo não volta — e é justamente por isso que o momento presente é tudo o que realmente temos.
