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O vergonhoso PL da dosimetria e a vergonhosa postura de Jaques Wagner

Depois de muita enrolação, polêmica e protestos nas ruas e nas redes sociais, o Senado finalmente aprovou o chamado PL da dosimetria. Primeiro passou pela CCJ e, em seguida, pelo plenário. Um roteiro conhecido, previsível e profundamente frustrante para quem ainda espera algum compromisso real com a coerência institucional e o respeito ao debate público.

A aprovação em si já é vergonhosa. O projeto avança apesar da enorme controvérsia, das críticas técnicas e do claro descontentamento de amplos setores da sociedade. Mas nada foi tão constrangedor quanto a fala do líder do governo no Senado, Jaques Wagner, ao afirmar publicamente que houve um acordo entre governo e oposição para viabilizar a aprovação do PL, Wagner jogou gasolina em uma fogueira que já estava acesa.

A repercussão foi tão negativa que Gleisi Hoffmann, ministra chefe da secretaria de relações institucionais, precisou vir a público, às pressas, para dizer que o governo não sabia de acordo algum. A declaração soou como um esforço de contenção de danos, quase um pedido silencioso de “desculpem o transtorno”, diante do desgaste evidente. Ainda assim, a emenda acabou saindo pior do que o soneto.

Fica a dúvida, que não é pequena: o governo realmente não teve qualquer participação nesse acordo ou estamos diante de mais um daqueles jogos de cena tão comuns na política brasileira? Quando as versões não batem e os discursos se atropelam, a desconfiança passa a ser não apenas legítima, mas inevitável.

E há um detalhe nada irrelevante nesse episódio. Se Jaques Wagner continuar como líder do governo no Senado mesmo após essa fala desastrosa, o recado será claro. A negativa do acordo, nesse caso, dificilmente passará de encenação para consumo externo. Afinal, líderes não se mantêm em cargos estratégicos depois de “mal-entendidos” desse tamanho sem algum tipo de anuência.

Por ora, resta aguardar. Como em toda boa novela política brasileira, o capítulo termina em suspense, deixando no ar a promessa ou a ameaça de novos episódios ainda mais reveladores. As cenas dos próximos capítulos dirão muito mais do que as notas oficiais.

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