Junho. Mês das festas, dos santos, dos fogos, mas, também, do fogo interno que muitos homens carregam em silêncio até que se tornem cinzas.
A imagem é forte. Quatro rostos. Quatro silêncios. Robin Williams, Kurt Cobain, Chris Cornell, Chester Bennington. Todos com o sorriso guardado no bolso e a dor vestida sob a pele. Ídolos que faziam multidões cantarem enquanto, por dentro, desmoronavam.
A Antropologia nos lembra que a masculinidade não é biológica, é construída culturalmente. Pierre Bourdieu já falava de uma “masculinidade hegemônica”, aquela que exige força, racionalidade, controle emocional. O homem que sofre, que chora, que pede ajuda… ainda é visto como um traidor desse ideal viril. Em vez de cuidado, recebe o castigo do silêncio.
No Brasil, os dados não mentem: a cada 45 minutos, um homem comete suicídio. A maioria? Jovens, negros, periféricos. A masculinidade tóxica não é apenas um meme ou um exagero feminista. Ela é letal.
A Sociologia de Émile Durkheim já mostrava que o suicídio é um fenômeno social, não apenas individual. Ele é expressão de uma falha coletiva: uma sociedade que não ensina homens a falar de dor, mas a engolir pedra e sorrir para a foto.
Esses rostos famosos estampam a dor de tantos outros que não ganham manchetes. São homens que morrem dentro de casa, de terno, no futebol, no quartel, na igreja. São os que não choram no enterro do pai, mas gritam à noite no travesseiro.
A sociedade cria homens como fortalezas e depois estranha quando eles desmoronam por dentro. O corpo masculino é treinado para a guerra, não para o cuidado. E como diria Judith Butler, o corpo é também um campo político.
Quantos corpos masculinos foram treinados para agredir, competir, dominar, mas não para pedir ajuda?
Robin Williams nos ensinou que o riso pode ser armadura. Cobain nos mostrou que a arte pode ser grito. Cornell e Bennington provaram que mesmo entre aplausos, o vazio ecoa.
Mas e os homens comuns? Aqueles que não têm palco, nem plateia, nem legenda no Instagram?
Junho deveria ser o mês da virada. Não apenas da campanha, mas da cultura. Da escuta. Do afeto.
A masculinidade precisa ser reinventada. Precisa abrir espaço para a vulnerabilidade como coragem, como dizia Brené Brown. E para isso, precisamos educar meninos para serem humanos não heróis.
Porque heróis morrem cedo. E homens de verdade… vivem quando aprendem a pedir socorro.
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Emanuelle Nascimento, colaboradora do Café Literário, costuma escrever textos para outras editorias de Notibras
