Eu gosto de brincar com as palavras. Às vezes fico só pensando nelas, como quem gira uma pedrinha na mão, olhando de vários ângulos pra ver onde está o brilho. Palavras têm personalidade própria: algumas são mais elegantes, outras são desajeitadas, e tem aquelas que, quando saem da boca de gente simples, ficam ainda mais bonitas justamente porque vêm “erradas”.
Veja só: rezistro. Me desculpe a gramática, mas é muito mais bonito que registro. Rezistro tem até um ar mais solene, parece coisa de cartório antigo, com carimbo e papel amarelado. E o que dizer de imbigo? Umbigo é só um umbigo, mas imbigo tem fofura, parece nome de passarinho ou apelido carinhoso.
Outro exemplo maravilhoso é o sumercado. Não existe economia maior: você corta uma letra e já dá a sensação de que o preço vai cair também. “Vou ali no sumercado rapidinho”. É prático, simpático, cabe no bolso e na boca.
E, claro, não posso esquecer da clássica tauba. Tábua soa sério, pesado, quase objeto de obra. Já tauba é mais leve, parece coisa de quintal de vó, madeira boa pra improvisar banco ou equilibrar uma criança brincando.
No fim das contas, acho que a língua portuguesa só fica completa quando a gente deixa espaço pra essas belezuras “erradas”. É como se a vida lembrasse: nem tudo precisa estar certo pra ser bonito. Algumas palavras são como algumas pessoas: mais encantadoras justamente nas suas imperfeições.
