Um vento de possibilidade positiva sopra rumo a Gaza. Pode parecer uma visão ingênua diante da tragédia que se abate naquele pequeno pedaço de mundo, mas e exatamente pela expansão da tragédia é que se vislumbra rumos diferentes a partir de importantes movimentos geopolíticos.
O governo de Israel, contra a vontade de grande parte de seu próprio povo, em desafio a todas as resoluções da ONU e às condenações internacionais, inclusive do Tribunal Penal Internacional, continua sua escalada de horror, com seu show macabro de mortes, cujo requinte de crueldade chegou ao ponto de tornar seus alvos pessoas famélicas em filas em busca de algum alimento.
Depois de quase dois anos de um massacre terrível contra a população civil de Gaza com bombas, mísseis e balas (e aqui não se relativiza o atentado covarde contra a população civil de Israel promovido pelo grupo Hamas, mas que jamais pode justificar a vingança do governo israelense contra os civis de Gaza) que já dizimou mais de 60.000 mil vidas, agora assistimos a um espetáculo dantesco de mulheres, homens, crianças e idosos morrendo à míngua de fome, simplesmente porque o governo de Israel proíbe a entrada de alimentos e de ajuda humanitária para aquele sofrido povo.
Estes últimos acontecimentos parecem ter surtido algum despertar mágico em líderes de diversos países, especialmente da Europa, que se tornaram mais incisivos na defesa da efetivação de um estado da Palestina. Macron (França), Montenegro (Portugal) e Starmer (Reino Unido) já afirmaram que reconhecerão a Palestina na próxima Assembleia Geral da ONU a acontecer em setembro em Nova York. A Alemanha, por meio de seu Ministro de Relações Exteriores Johann Wadephul, também sinalizou para o mesmo caminho caso Israel não abdicasse dos planos de anexação da Cisjordânia ocupada, o que, a considerar a brutalidade inerente ao fascismo de Netanyahu não acontecerá, tornando assim praticamente concreta também por parte da Alemanha o reconhecimento daquele Estado. Importante destacar que Espanha, Irlanda e Noruega já o reconhecem.
Por óbvio o simples reconhecimento da existência de um estado palestino não altera a situação, mas por se tratarem de países com peso na geopolítica mundial, abre-se uma nova perspectiva, uma nova via de pressão internacional. Importante salientar também que ao lado do reconhecimento oficial da Palestina, discute-se no âmbito da União Europeia e também de outros países como Colômbia, Brasil, e África do Sul (estes dois últimos subscritores de ação contra Israel por genocídio na Corte Internacional de Justiça) a adoção de sanções políticas e econômicas, o que efetivamente tem mais poder de sensibilizar Israel do que o reconhecimento formal do Estado Palestino, pois toca em questões mais profundas como perdas econômicas e militares significativas para o país.
Espera-se que estas intenções se materializem, a despeito da verborragia belicosa e violenta de Trump. aliado incondicional de Netanyahu. Que não fiquem apenas nos discursos e nas boas intenções. Netanyahu precisa ser contido. O mundo não pode aceitar a repetição do macabro extermínio promovido por Hitler contra justamente o povo de Israel, país cujo governo, ironicamente, está a repetir agora um genocídio. O que ocorre em Gaza é a demonstração cabal da banalização da maldade que nos faz desacreditar que ainda possa existir bondade. Oxalá que novos tempos possam surgir para aquele pedaço de terra já quase totalmente sob escombros que evidenciam até que ponto a insanidade pode chegar.
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Antonio Eustáquio é correspondente de Notibras na Europa
