Notibras

Para ouvir agora o que cantei antes

Porque tudo passa muito depressa quando o planeta Terra pede socorro e os ricos querem os territórios sobreviventes só para eles.

Porque o tempo é soberano e o egoísmo é fábrica de urgências.

Porque as urgências administradas pelos que ocupam postos no topo da pirâmide é causa das emergências que assolam a base da pirâmide…

Tive de retroceder para tentar resgatar, resenhar, parafrasear esse tempo devorador, para ouvir agora o que eu mesma cantei antes… Na tentativa de sustentar aquela música no ar…

Voltei e reli, em Mister de Profeta, publicado em 22/08/2025: “Músicas, formas… Tudo pode ser arredondado, a palavra inclusive. Se conclusa, porém, enquadra-se em retilíneas. Quero pés de andar em texto. De cabeça erguida em música.”

E sustentando notas pretéritas e apaixonadas, reli no poema Carta a um eu lírico, publicado em 28/08/2025, citações de poetas famosos.

“Quando eu o vi, um anjo torto
desses que vivem na sombra disse”:
– Vai, ver seu amado “ser gauche na vida”.
[…]

Ah! Amado, que saudade daquela pedra
Que virou metáfora no meu caminho.

Já anoiteceu…
“Eu não devia te dizer”, mas aquela lua
botava a gente comovida “como o diabo”.
[…]

Amor, estou saindo agora
pra encontrá-lo em Pasárgada…
Levo o seu porquinho da Índia e…
Suas “palavras sobretudo os barbarismos universais
[…]

No nosso encontro “o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare.”
[…]
Espero você na “Rua Nascimento Silva, 107.”
Eternamente tua,
Elizete.”

E reli ainda, em “Poema para um sarau”, publicado em 17/10/2025:

“Não quero lhe falar das coisas que ensinei e arrisco:
Viver é melhor que contar o contar de encontrar
Multifacetada, eu vivo à toa como qualquer Pessoa
Ainda somos e vivemos com os nossos ais”.

Em retrospectiva que busca estar presente no aqui e agora, reli em Minha Deixa (publicado em 2025):

“Deixa ser e te permite ser.
Toma a responsabilidade de ouvir
que a música lá de fora vem de fora
e que a música de dentro vem de dentro.

Para, entra em contato.
Viver é tão lindo,
quando se transcende a região de Maia.”

Porque ser humano é saber a perspectiva de futuro como possibilidade, antecipo trecho do paratexto inicial de Rapsódia da Rua da Mooca, em que Eduardo Martínez – um dos autores do livro – relaciona ritmos musicais com estilos de escrita. Eduardo nunca havia ouvido falar de escrita conjunta. Se bem que era de seu conhecimento que havia gente que escrevia letra de música em parceria. Mas nunca imaginara uma história escrita a tantas mãos. Mesmo assim aceitou o desafio, que, a princípio, causou dúvidas. Afinal, quem é que decide a trama, o desenlace? Imaginou que seria algo como uma orquestra, só que cada um tocando um ritmo diferente: “olha lá a Edna no frevo, o Gilberto no tango, a Marlene no rock, a Rosilene atacando de baião, e ele, Eduardo, tentando puxar para o lado do samba.”

Nas palavras de Cecília Baumann, no prefácio de Rapsódia da Rua da Mooca:

“Quando me deparei com essa trupe de escribas — Edna, Eduardo, Gilberto, Marlene e Rosilene — confesso que fiquei intrigada. Afinal, quem, em sã consciência, se lançaria ao desafio de construir uma narrativa a dez mãos, cada uma puxando para seu compasso, sua métrica, sua música? Pois bem… esses cinco não só se lançaram, como o fizeram com uma maestria que, honestamente, me tirou o fôlego.

…………………….

Sobre a autora (Dados autobiográficos)
Valorizo o trabalho de editoras. Avalio as dificuldades que elas enfrentam para se manter num país em que políticos propagam o desprezo pela pesquisa, pelos professores, pela escola pública laica, civil e de qualidade. Políticos que menosprezam as cotas para os povos originários e a prova do ENEM como mecanismos de justa seleção para ingressar na universidade pública.
Sou militante do PRCDC – “Programa de Recuperação Cognitiva e Dessensibilização de Cromofobia”. No projeto, livros são usados como vacinas para a cromofobia – essa doença epidêmica que retorna com intensidade de quatro em quatro anos, ou seja, nas eleições para os poderes Legislativo e Executivo – federal e estadual.
O PRCDC é um projeto de resiliência em prol dos princípios democráticos. Consiste de leituras dos autores: Edna Domenica, Eduardo Martínez, Gilberto Motta, Marlene Xavier, Rosilene Souza. Assim como de Graciliano Ramos, Ariano Suassuna, João Cabral de Melo Neto, Chico Buarque de Holanda, Guimarães Rosa, Mia Couto, Conceição Evaristo e outros. Para sanar os casos mais graves de cromofobia, recomendo: Marx e Engels.

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