Óbvio que eu estava atrasada! Eu tinha um compromisso do outro lado da cidade às 17h e o lançamento do livro, no centro da cidade, era às 18h30. E eu não sei em que mundo imaginário da minha cabeça eu achei que daria tempo! Mesmo se nada desse errado, eu teria de pegar 70% dos sinais abertos para chegar em ponto. Mas aí, choveu! O grande terror do mundo juizforano aconteceu, e foi então que o caminho de 40 minutos deu mais errado ainda.
Pensei seriamente em não ir, porque chegar atrasado demais é feio, mas fui. Cheguei às 19h20, sentei na última fileira e me coloquei apenas a prestar atenção! Três mulheres, das quais duas conheço e admiro imensamente o trabalho e a escrita, falavam de livros, poemas, textos e resistência feminina. Comecei a admirar, até que fiz o que faço sempre, levantei a mão e fiz minha contribuição totalmente vinda dos meus divertidamentes – acredite, se você ainda não viu esse filme, veja!
Ambas as escritoras conhecidas sorriram e disseram algo uma para outra, e eu me senti forte, porque elas sorriram! Depois disso comecei a pensar sobre a minha escrita.
Sarah é dona da voz mais doce que conheço, um cabelo encaracolado em tons de vermelho-alaranjado e olhos claros, que dá vontade de chamar para sentar e tomar um chá. Mas seus textos, meus amores, fazem às vezes embrulhar o estômago e vomitar: palavras, resistência, abraços de empatia e infinitos pensamentos sobre o mundo.
Marcela tem o sorriso mais sincero que já vi. Magra, cabelo preto e dona de falas e afetos dos quais eu desconhecia, e com textos que simplesmente te tiram a vontade de falar, porque não há mais o que dizer depois das falas dela. Diante disso, pensei: por que escrevo afinal? Elas estão sendo resistência, se comprometem em abrir debates tão necessários, e eu escrevo sobre o tempo, sobre o amor e sobre coisas que me fazem cotidiana. Recuso-me a escrever sobre qualquer coisa que seja densa e triste, não que elas façam isso, mas há pessoas escrevendo por aí para ser ato de reflexão 24h do tempo, para ser ponto de resistência.
Eu escrevo imaginando que as pessoas irão sorrir! Escrevo para ser leve, para ser franca, para arrancar nem que seja um sorriso de canto de boca!
Escrevo com a intenção de fazer quem leia se conectar à minha escrita, e esquecer da louça pra lavar, do compromisso à noite, do conselho mal dado ao amigo, da academia que ainda não fez. Escrevo para lembrar, ou pelo menos tentar fazer com que lembrem, que em meio a tanta reflexão de resistência, existe alguém não resistente em mudar.
Deixo meu lugar de resistência, reflexão e densidade a quem sabe ser e fazer isso muito melhor que eu: Sarah, Marcela, Mirian, Anas, Reginas e as infinitas mulheres escritoras que promovem no seu texto o lugar da intensidade que devem ser!
A elas me deixo admirar e aprender infinitamente sobre temas que eu não saberia escrever com tanta potência. A elas deixo meu convite sincero para um café, um chá, uma cerveja, para que possamos dialogar sobre a vida, cada um com seu olhar. A elas, estarei na primeira ou última cadeira olhando e refletindo sobre como a escrita é o palco para as suas ideias, a elas estarei seguindo junta, construindo uma sociedade que molda a cultura e a cultura molda a sociedade.
Penso sobre a resistência, aquilo que é o ânimo que criamos – ou inventamos – para suportar a fadiga.
Serei então eu a resistência do sorrir. E deixo a todas as outras as infinitas mais formas de resistir!
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Thalita por Thalita – Sou muitas, algumas eu já fui, algumas ainda serei, mas, no fundo, sempre mudando. Jornalista por teimosia. Publicitária por conveniência. Empresária por exigência da vida. Crocheteira e escritora por acreditar nos sonhos e por precisar da arte para me expressar e sobreviver. Músicas, livros, linhas, sebos, cafés e cervejas no meio deles, me perco no tempo e me encontro na sensibilidade das pequenas coisas cotidianas. Na pluralidade do que me constitui, elegi o caminho das histórias para sensibilizar quem, assim como muita gente, acredita que a vida se faz rindo e chorando, título do primeiro livro lançado em 2024 pela Editora Autoria.
