Dia desses falamos aqui no Café Literário, sobre Gilberto Motta, personagem, então, do Lado B da Literatura, apresentado por nosso coleguinha de cabelos prateados Cassiano Condé. Hoje, nesta entrevista, ele volta ao espaço, para falar brevemente das plagas por onde passou e das sagas vividas para colocar no papel o que lhe vem à mente.
Vale a pena ler. E descobrir que nem sempre a vida é um circo, mesmo para quem tenha nascido em um.
Fale um pouco sobre você e sua trajetória literária.
A paixão pelos livros, teatro e cinema começou cedo, na infância. Pai e mãe, mesmo não tendo chegado à universidade, eram leitores vorazes e amantes das artes. E daí veio, pelo exemplo, o interesse pelos livros e pelas diferentes narrativas. E havia o lance do nosso circo teatro onde nasci e cresci até os oito anos. Logo que me alfabetizei, desembestei a ler tudo o que encontrava e a inventar as minhas próprias histórias.
Já no secundário, comecei a escrever com algum método e orientação nas diferentes disciplinas. Primeiro crônicas de minha imaginação, o que observava no dia a dia; tempos depois é que entendi serem crônicas; depois vieram os contos e não parei mais. No final dos anos 1970, já em São Paulo/capital, no curso de jornalismo da Cásper Líbero, tomei contato com a literatura de maneira mais técnica, etc. Vários contos e crônicas e concursos, coletâneas. Alguns livros nos últimos anos, roteiros para as reportagens jornal, rádio, TV e cinema, mas sempre com o mesmo prazer de “escrever para não parar de respirar”.
O que o inspira a escrever? Como é o seu processo criativo?
A possibilidade de narrar a vida, tentar traduzir o que vivo e o meu entorno; e o exercício da imaginação. Meu método, a maior parte de minha vida, foi sempre mais intuitivo (os sentidos e a observação). Nos últimos anos aprendi a lidar com a “inspiração versus método”. Acordo com os galos, antes das 6h, café e notebook. Escrevo ao longo da manhã
todos os dias: “escrever para não parar de respirar”.
Há alguma preferência por temas ou gêneros?
Não me balizo por temas específicos, porém, ao longo dos anos percebo que tudo o que me atrai passa pelo cotidiano, pelas pessoas e as relações especialmente as mais insólitas, estranhas, supra realidade. Viver -e imaginar-, é mais desafiador e mágico. Gosto dos seres “invisíveis”, as coisas do anonimato, do susto, do espanto, a vertigem de narrar novas possibilidades. Durante 40 anos, como repórter, criei e realizei narrativas jornalísticas factuais misturadas com
literatura/comportamento. Tenho trabalhado em dois romances, mas é coisa sem tempo para finalizar. Escrevo atualmente poesia livre, histórias infanto-juvenis, memórias/lembranças e lambanças diversas. Crônicas e contos são o meu cimento de prazer e desafio.
Textos coletivos não são tão comuns entre os escritores. Como é lidar com outros escritores? Você se frustra ao se deparar com os caminhos diversos que seus colegas tomam em relação ao texto?
Os projetos coletivos que temos desenvolvido são fundamentais. A internet, as redes sociais trouxeram novos desafios, comprimindo o tempo e o espaço, mas também nos colocando mais conectados. Sempre produzi “em equipe”, porém nunca perdi a noção de que o trabalho de criação especialmente na narrativa textual é profundamente solitário (para mim especialmente pessoal). Lido, hoje, com grande prazer – e alguma cumplicidade/paciência mútua-, com os parceiros e parceiras de textos coletivos. São imensos desafios que a cada novo projeto me intriga, instiga e extasia. Os caminhos diversos é que são o barato de toda a produção…rssss.
Como você controla o ego de escritor ao trabalhar com outros autores? Há uma disputa interna ou você consegue levar isso numa boa?
Simples: um esporro, um beijo, um banho e depois voltamos para a cama. E muito vinho de alguma qualidade. O ego e as disputas são temperos fundamentais, caso contrário seríamos algoritmos brincando nos campos do Senhor literário. Somos “demasiadamente” humanos, como disse o bigodudo filósofo genial.
Como você lida com as críticas ao seu trabalho?
Veja bem: crítica não é necessariamente uma manifestação negativa, destrutiva. Lido com juízos de valor, portanto, opinião. Divergência não significa embate, demência. A questão é a postura, os objetivos de cada crítica. Se a coisa não tem sustentação e ignoro e sigo em frente.
Como você se relaciona com seus leitores?
Não penso neles quando escrevo. Sério mesmo. Eu penso, produzo o que posso e realizo a mágica experiência da literatura, da criação da narrativa, do “Viver para contar”, como sacou o inacreditável Gabriel García Márquez, o Gabo. A recepção, a decodificação e os novos sentidos: são problemas/desafios do leitor. Sempre percebi o leitor/ouvinte/espectador como os seres que irão complementar, finalizar aquilo que “cometo” em minhas diferentes e diversas narrativas.
Há alguma pergunta que não fiz e você deseja responder?
Sim: para onde vocês enviarão o Pix?…rsrsrsss., Brincadeira, Cecília. Vocês/NOTIBRAS são um sopro infinito de luz e oxigênio para nós, escrevinhadores de batalhas jamais vencidas. Gratíssimo.
