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Pelo Sinal da Santa Cruz, do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Amém)

A cruz, símbolo máximo do cristianismo, teve sua origem como um instrumento de suplício e morte. Símbolo de fé e proteção, a cruz cristã é um dos emblemas mais importantes do cristianismo, representando a morte e ressurreição de Jesus Cristo. A cruz também é vista como um símbolo de amor e sacrifício, lembrando os fiéis da importância da fé e da devoção. (Mateus 16:24). No Império Romano, a crucificação era reservada aos escravos, rebeldes e criminosos perigosos, sendo considerada a forma mais humilhante e dolorosa de execução.

O martírio na cruz não era apenas punição, mas também humilhação pública e total aniquilação da dignidade humana.
Jesus de Nazaré foi condenado à morte na cruz sob a acusação de sublevação, transformando o objeto de vergonha em emblema de redenção para seus seguidores. Desde então, a cruz passou por uma profunda ressignificação simbólica, tornando-se um ícone de fé, ainda que seu caráter de martírio permanecesse presente na memória cristã.

Embora haja uma associação direta da cruz com o cristianismo, a partir da crucificação de Jesus Cristo, a origem da cruz é mais antiga e complexa, atravessando diversas culturas e tradições religiosas. Povos antigos como os egípcios já usavam o Ankh — a Cruz Ansata — como símbolo da vida eterna.

A partir do século IV, após a conversão do imperador Constantino I ao cristianismo e a promulgação do Édito de Milão (313 d.C.), concedendo liberdade religiosa no Império Romano, a cruz passa a ser amplamente adotada como signo da fé cristã. Reza a lenda que Constantino teve uma visão da cruz com a inscrição In hoc signo vinces (Com este sinal vencerás) antes da Batalha da Ponte Mílvia, sobre o rio Tibre, em Roma, na qual se saiu vitorioso contra o imperador Magenta. Durante a Idade Média, especialmente nas Cruzadas e na Inquisição, o símbolo da cruz voltou a ser associado à dor e punição. Em nome da fé, inquisidores utilizavam a cruz como justificativa para aplicar suplícios e penas severas aos pagãos e aos acusados de heresia.

Do ponto de vista simbólico, a cruz expressa a união dos contrários: o eixo vertical concebe o mundo espiritual, a relação entre o céu e a terra; o eixo horizontal, por sua vez, remete ao plano terreno e às relações humanas. O ponto de intersecção, onde esses dois mundos se encontram, representa o próprio Cristo, o mediador entre o divino e o humano. Além de simbolizar a conexão do Homem com o Divino, segundo o princípio hermético “o que está em cima é como o que está embaixo”, a cruz simboliza também a união do masculino com o feminino, de acordo com a Lei Universal. A cruz é também símbolo alquímico de equilíbrio entre os quatro elementos e os quatro pontos cardeais — uma representação do cosmos ordenado sob a luz divina.

Nas tradições místicas e devocionais, a cruz é também vista como um potente símbolo de proteção espiritual. O simples ato de fazer o sinal da cruz sobre si ou sobre outra pessoa é considerado um gesto sacramental, capaz de afastar influências malignas e reforçar a presença divina. Santo Antônio de Pádua dizia: “A cruz é a armadura do cristão e escudo contra o inimigo invisível”. Aí eu diria, e também contra o inimigo visível.

Além do âmbito religioso e espiritual, a cruz também tem forte presença cultural e histórica, representando o poder econômico e militar. Vale destacar que o punho da espada tem a forma da cruz; ao passo que a cruz e a espada caminham “juntos e misturados” há séculos. Ela aparece nas bandeiras de diversas nações cristãs, em brasões de famílias nobres, em joias devocionais e em ex-votos. Durante as Cruzadas, os temidos cavaleiros ostentavam cruzes em seus mantos como sinal de missão sagrada. Como onde há poder, há também sombra, a cruz, símbolo do sagrado, tem sido, ao longo dos séculos, instrumento de poder e de dor.

Contudo, a cruz cristã transcendeu sua função original como instrumento de martírio e execução. Ela foi transmutada para símbolo sagrado, arquétipo espiritual e poderosa arma simbólica contra o mal e energias negativas. Mais que um símbolo de fé, ela é um instrumento capaz de repelir forças malignas e assegurar a autoridade de Cristo sobre o mal.

Durante o exorcismo, o sacerdote traça o sinal da cruz sobre o possesso, sobre si mesmo e sobre os objetos litúrgicos, invocando a presença de Cristo crucificado, trazendo luz às trevas. Via-de-regra a cruz é pressionada contra o corpo do possesso durante a manifestação demoníaca. A teologia cristã entende que, pelo sinal da Santa Cruz, Nosso Senhor é imbatível na luta contra o satanás. Além de seu uso litúrgico, a cruz é recomendada para os fiéis como proteção diária. Colares, crucifixos e o próprio sinal da cruz feito com a mão são considerados formas legítimas de se proteger contra influências espirituais adversas.

Na dúvida, é melhor confiar.

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Giovanni Seabra é Grão-Mestre do Colégio dos Magos e Sacerdotisas
@giovanniseabra.esoterico – @colegiodosmagosesacerdotisas

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