Dizem que Brasília foi desenhada como um avião, mas o Lago Paranoá continua sendo um oceano para quem precisa ir do Lago Norte ao Lago Sul sem antes dar uma volta ao mundo — ou, pelo menos, ao Eixão.
Desde meados dos anos 1990, a tal ponte suspensa sobre o Lago Paranoá é promessa de campanha, projeto de gaveta e maquete de PowerPoint. Ela já foi lançada em 3D, em edital, em sonho lúcido. Mas agora — atenção, senhores passageiros — parece que vai sair do papel. A ponte vai nascer.
Esse é o plano do governador Ibaneis Rocha, que deixará o Buriti em abril do próximo ano para disputar uma vaga no Senado. A decisão de mandar construir a ponte foi ouvida por nosso companheiro José Seabra, em sua passagem por Brasília na semana passada. Como ele andava na correria, passou-me a pauta.
A sucessora, Celina Leão, já foi escolhida para ser a “ponteira” da história. A ela caberá, no plano idealizado, cortar a fita e ter a imagem registrada com o pôr do sol refletindo no concreto novinho da ponte que unirá o Lago Norte ao Lago Sul — um feito logístico, estético e, claro, que reduzirá distâncias.
Enquanto a obra não começa, o brasiliense segue cruzando o lago como sempre: de carro, por cima da ponte que já existe, ou de lancha. Enquanto isso, a ponte suspensa permanece ali, no reino da ideia, onde mora o unicórnio do transporte público funcional e a sereia do VLT.
A ponte, afinal, é um sonho que ninguém quer perder. Enquanto o projeto é desenhado, os moradores dos dois lados do lago já sonham com o concreto.
No Lago Norte, Dona Marilda, enfermeira aposentada, diz com olhos apertados de expectativa:
— Olha, eu já vi essa ponte nascer umas cinco vezes e morrer antes de sair da incubadora. Mas, se sair mesmo, vai me economizar 40 minutos de trajeto pra visitar minha filha lá no Lago Sul.
Do outro lado, no Lago Sul, Diego, entregador por aplicativo, vê na ponte uma esperança real:
— A gente perde tempo e combustível todo dia dando volta. Com essa ponte, dá pra fazer o dobro de entregas. Pra mim, é mais dinheiro no bolso.
A promessa, desta vez, tem cronograma, projeto executivo, plano de licitação e até nome técnico: ponte estaiada sobre o Paranoá. O nome é de engenheiro, mas o desejo é de todo brasiliense que já ficou parado no trânsito pensando que voar seria mais fácil.
Se tudo correr como nunca correu antes, a obra começa ainda este ano. Mas, até lá, o cidadão comum segue cruzando o lago como sempre: de carro, pelo Paranoá Park, pela Ponte do Bragueto ou, para os mais afortunados, de lancha, com o pôr do sol ao fundo.
Desta vez, pelo visto, Brasília deixará de ser uma cidade de promessas suspensas — e, quem sabe, terá finalmente a ponte sempre prometida mas nunca entregue.
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Marta Nobre é Editora Executiva de Notibras
