Notibras

Presidente não é CEO, país não é empresa

Ontem, um domingo absolutamente comum, eu só queria fazer o básico: adiantar umas tarefas domésticas, tomar meu café em paz e, entre uma arrumação e outra, me divertir rolando o feed das redes sociais. Nada demais, só aquele descanso mental que a gente tenta encaixar no fim de semana.

Mas aí, enquanto passava o dedo pela tela, me deparei com uma postagem do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, na rede social X, dizendo que o Brasil “volta a funcionar” se “trocar o CEO”, numa referência explícita ao presidente da República. E aquilo me fez parar. Pensei: como assim “trocar o CEO”?

Algumas reflexões se impuseram ali mesmo, entre uma xícara de café e outra.

Primeiro: é claro que a população pode trocar o presidente. Isso não está em discussão. Mas essa troca não acontece de maneira estabanada, abrupta, nem ao sabor de insinuações golpistas. Existe um caminho legítimo, chama-se eleição. É nesse momento, e somente nele, que a vontade popular se expressa e define quem governa o país. O Brasil não suporta mais aventuras autoritárias, nem discursos que flertam com soluções fora da Constituição. Chega de golpes, de tentativas de golpe, de gente brincando com a estabilidade do país como se fosse tabuleiro de jogo.

Segundo: um país não é uma empresa. O Brasil não tem “CEO”. O Brasil tem presidente, eleito pelo povo, com um projeto político submetido ao debate público. Governar não é procurar lucro, cortar custos ou melhorar indicadores para agradar acionistas. Governar é cuidar de gente. É garantir saúde, educação, segurança, moradia, dignidade, oportunidade. Um país não existe para dar retorno financeiro. Existe para proporcionar bem-estar aos seus cidadãos.

Reduzir o governo a uma lógica empresarial é ignorar que pessoas não são planilhas. Que direitos não são metas trimestrais.

Por isso, aquela postagem de domingo cedo, que talvez fosse apenas mais uma provocação no feed, acabou se transformando num lembrete incômodo: há políticos que ainda não entenderam (ou fingem não entender) que democracia não é gestão empresarial, que o Brasil não é corporação, e que o povo não é acionista a ser manipulado.

E enquanto eu voltava para as minhas atividades domésticas, fiquei pensando: o país funciona, sim. Funciona quando respeitamos a Constituição, as instituições e, principalmente, as pessoas. Todo o resto é ruído.

Sair da versão mobile