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Quando as drogas vestem o disfarce de divindades

Desde que o homem aprendeu a sonhar acordado, busca o divino em fronteiras pouco nítidas entre o corpo e o espírito. Há milênios, xamãs bebem poções que os conduzem ao invisível; monges alcançam o êxtase pela meditação; profetas, em visões de fogo, afirmaram ouvir a voz dos céus. Mas o século moderno, impaciente e carente de transcendência, descobriu outro caminho: o da química.

Há quem use drogas não como fuga, mas como ponte. Substâncias que prometem abrir portas da percepção, dissolver o ego, escancarar universos interiores. O alucinado, por instantes, acredita compreender o mistério da existência — ver o todo, tocar o absoluto, conversar com deuses inventados pela própria mente. É a velha busca do sagrado, travestida de prazer químico.

Sob o efeito do LSD, do DMT ou dos cogumelos psicodélicos, muitos descrevem experiências de revelação cósmica: geometrias de luz, vozes que parecem vir de dentro do universo, uma sensação de união com tudo o que existe. O cérebro, inundado de neurotransmissores, transforma-se em palco de um espetáculo divino — e o viajante acredita ter sido iniciado em um segredo eterno.

Mas a fronteira entre o místico e o delírio é tênue. O que parece iluminação pode ser apenas ruído cerebral; o êxtase, um lampejo falso que seduz e consome. A química promete atalhos para o transcendente, mas entrega apenas reflexos — visões sem raiz, epifanias sem chão. O sagrado verdadeiro exige travessia, paciência, silêncio.

Ainda assim, é impossível negar o fascínio. O ser humano continua procurando sentido nas brumas da consciência. Seja diante de um templo ou sob o efeito de uma droga, ele quer — desesperadamente — encontrar algo que justifique o espanto de existir.

Talvez seja isso o que move os que buscam o prazer das alucinações: o desejo de tocar o infinito, mesmo que por um segundo. O problema é que, no altar contemporâneo, o deus que fala é o da química — e suas visões, por mais belas, são apenas ecos de um templo vazio.

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