Eu fico meio ressabiada quando alguém me diz que “só consegue desabafar comigo” ou que “sou uma ótima ouvinte”. Claro, eu sei que são elogios. Em geral, fico feliz em poder ser alguém em quem as pessoas confiam. Mas sempre acende uma luz amarela dentro de mim. Tenho a sensação de que, sem perceber, posso estar sendo empurrada para aquele papel de quem acolhe todo mundo, resolve tudo, segura o emocional dos outros enquanto o próprio vai ficando ali, quietinho num canto.
Já vi isso acontecer muitas vezes: pessoas que parecem fortes, que sabem ouvir, que têm sempre uma palavra de conforto, mas que, no fundo, estão exaustas. Porque ser o ponto de apoio de todo mundo tem um preço alto. E o mais curioso é que quase ninguém percebe quando o “cuidador” também está precisando de cuidado. É como se quem ouve bem não tivesse o direito de desabar, como se quem conforta os outros não pudesse sentir dor.
Por isso eu tento não cair nessa cilada. Tento estar presente, sim, mas sem me esquecer de mim. Não quero ser a pessoa que aguenta tudo calada, que se acostuma a ser o porto seguro dos outros enquanto se afoga em silêncio. De vez em quando eu também preciso falar, reclamar, chorar, pedir colo. E tenho aprendido, aos poucos, que ser forte o tempo todo não é virtude. É armadilha.
