Há quem nos acuse de frieza, indiferença, desapego. Dizem: “vocês não se importam mais”. E, de certo modo, estão certos, mas não pelos motivos que imaginam. O que poucos compreendem é que chegamos a esse ponto não por ausência de sensibilidade, mas por excesso dela. Houve um tempo em que nos importamos tanto, de forma tão intensa e tão desmedida, que adoecemos. E pagar esse preço nos ensinou a diferença entre sentir e nos destruir.
Durante muito tempo, carregamos sobre os ombros a expectativa alheia, a responsabilidade emocional que não era nossa, o fardo de consertar o que não quebramos. Nos importamos até a exaustão. Nos importamos a ponto de comprometer o corpo, a mente, a fé em nós mesmos. E, quando percebemos, já não sabíamos onde terminavam as demandas dos outros e onde começávamos nós.
Chega um momento em que o corpo cobra, a mente trava, o coração implora por trégua. E, então, aprendemos um novo verbo: soltar.
Soltar o que nos prende, o que nos tira a paz, o que nos exige mais do que devolve. Soltar, não por indiferença, mas por lucidez.
Hoje, quando dizem que não nos importamos, não entendem que estamos apenas escolhendo sobreviver e isso exige coragem. Não é simples virar a página quando já tentamos escrever tantos capítulos. Não é fácil olhar para alguém que um dia nos feriu e reconhecer que, para continuar vivos, temos que deixar pra lá.
O “tanto faz” que nos atribuem não é desdém. É maturidade. É autocuidado. É a consciência de que não podemos mais sacrificar nossa saúde para sustentar relações, situações ou expectativas que nunca nos sustentaram. Chegamos a um ponto em que a paz vale mais do que a explicação, o silêncio vale mais do que a insistência e o afastamento vale mais do que qualquer tentativa desesperada de permanecer em lugares que nos adoeceram.
Nós não deixamos de nos importar. Apenas aprendemos a nos importar conosco e isso, para muitos, é imperdoável.
