Quando chego do Maranhão
trago sempre na boca um gosto de saudade,
um pedaço de terra vermelha entre os dentes
e a lembrança do rio correndo lá longe.
Chego aqui com o peito machucado,
uma coisa apertada que me segue,
como quem deixa a própria sombra pra trás
e tenta viver em outra luz.
E essa cidade aqui é uma cidade tão grande,
as avenidas se estendem, secas,
o ar daqui me resseca os olhos e a garganta,
mas carrego o perfume da minha terra escondido na mala.
Chegando do Maranhão,
trago sempre doce de buriti que me adoça a alma,
polpa de bacuri que me enche o céu da boca,
e vinagreira pra fazer cuxá
porque há coisas que só têm sabor quando lembram casa.
É difícil viver por aqui
sonhando sempre com o dia em que volto pra lá,
onde a terra me reconhece,
onde a saudade vira abraço e o vento tem gosto de maré cheia.
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Inspirada no poema Mineiridade, de Conceição Evaristo.
