Notibras

Quando o mundo desaba, o nosso também

Há dias em que o chão se abre, e nada parece capaz de sustentar o peso do que somos. O olhar fica perdido, as mãos não encontram o que segurar, e o silêncio ganha corpo. Nessas horas, a vida se torna uma avalanche e, mesmo cercados de gente, sentimos o frio do desamparo.

Mas, às vezes, é necessário que alguém segure o nosso mundo quando ele começa a desmoronar.

Não com soluções prontas, nem com frases ensaiadas, mas com presença. Com aquele tipo de presença que não pede explicações, que não impõe cura, que apenas fica.

Porque há dores que não se resolvem; há dores que apenas precisam ser testemunhadas.

Vivemos em um tempo em que todos fingem estar bem. As redes sociais, as conversas apressadas, os cumprimentos automáticos tudo nos treina para esconder o caos. Aprendemos a sorrir enquanto quebramos por dentro, e aplaudimos a performance da força, mesmo sabendo que ninguém é forte o tempo todo.

E, no entanto, o que nos falta não é coragem é acolhimento.

Segurar o mundo de alguém é um ato de resistência coletiva. É reconhecer que a vida não se sustenta sozinha, que a dor de um ecoa na estrutura de todos. Quando uma pessoa se desfaz, o tecido social também se rasga um pouco. É o amigo que se cala e ninguém percebe, a mulher que chora em silêncio depois do expediente, o jovem que some das conversas porque sente que ninguém o entende.

Essas ausências dizem mais sobre nós enquanto sociedade do que sobre eles.

Há um poder imenso em simplesmente estar em dizer “eu fico” quando tudo parece ruir. Não para resolver, mas para sustentar. É uma forma de amor silencioso, que não se exibe, não cobra e não se explica.

Segurar o mundo de alguém, por um instante, é impedir que o nosso mundo coletivo desabe de vez.

Porque no fundo, todos desmoronamos em algum momento. Todos precisamos, um dia, que alguém segure o que já não conseguimos manter de pé.

E é nesse ato de cuidado mútuo humano, imperfeito e real que reencontramos o sentido de ser plural.

A força que salva não é a que levanta sozinha, mas a que estende a mão e diz: “não precisa suportar o peso do mundo sozinha, porque esse mundo também é nosso.”

Sair da versão mobile