Ao longo da história, bruxos e bruxas simbolizam o indivíduo que escolhe trilhar caminhos fora do consenso, dialogando com a Natureza, os mistérios e o invisível. Antes de serem personagens do imaginário popular, esses arquétipos foram — e continuam sendo — guardiões de saberes ancestrais.
No universo das tradições esotéricas, nem todo operador mágico exerce a mesma função, ainda que compartilhem o mesmo território simbólico. O Mago é, classicamente, o estudioso das leis universais. Sua atuação se dá por meio de sistemas estruturados — astrologia, alquimia, cabala, hermetismo e magia cerimonial — tratando a magia como ciência espiritual sistêmica, envolvendo diversas áreas do ocultismo. O Mago investiga, experimenta, registra e opera símbolos com método e disciplina, buscando a elevação da consciência e a integração entre microcosmo e macrocosmo.
A Sacerdotisa, por sua vez, ocupa o eixo da mediação sagrada. Sua principal atividade não é apenas operar rituais, mas guardar, transmitir e consagrar. Ela conduz cerimônias, iniciações, ciclos lunares e ritos de passagem, mantendo viva a relação entre a comunidade e o divino. Na Wicca e no Sagrado Feminino, a Sacerdotisa encarna a Deusa, trabalhando a espiritualidade coletiva, a cura simbólica e a harmonização dos ciclos naturais e humanos.
Já a Bruxa, atua no campo da Magia natural e vivencial. Suas práticas envolvem ervas, encantamentos, saberes ancestrais, observação da Lua, dos elementos e do corpo. A Bruxa trabalha com a experiência direta do sagrado, frequentemente fora de estruturas hierárquicas rígidas. Sua atividade é profundamente ligada ao cotidiano: proteger, curar, orientar, banir, atrair, harmonizar. É a magia do lar, da terra e do tempo presente.
A Feiticeira, muitas vezes confundida com a bruxa, ocupa um território mais específico: o da magia aplicada à vontade direta. Historicamente, feiticeiras e feiticeiros eram especialistas em encantamentos, amarrações, defesas, quebras e trabalhos de influência. Embora o termo tenha sido estigmatizado, ele designa alguém que domina técnicas de concentração, palavra ritual e direcionamento energético, exigindo ética e responsabilidade para não se perder no desejo de controle.
Nas ordens herméticas, o aprendizado místico-esotérico raramente é imediato. Ele se organiza em graus, níveis ou etapas, que simbolizam o amadurecimento espiritual do iniciado. Tradicionalmente, inicia-se como neófito ou postulante, aquele que observa, estuda e aprende a disciplina do silêncio. Em seguida, vêm os graus de aprendiz, adepto e iniciado, nos quais o conhecimento deixa de ser apenas intelectual e passa a ser experiencial.
O avanço hierárquico não está ligado ao poder sobre outros, mas ao autodomínio, à ética e à capacidade de integrar conhecimento, prática e serviço. Magos, sacerdotisas, bruxas e feiticeiras podem ocupar diferentes níveis na hierarquia iniciática, dependendo do caminho escolhido e os degraus alcançados. O verdadeiro grau iniciático não se mede por títulos, mas pela transformação interior, pela responsabilidade com o sagrado e pelo compromisso com o equilíbrio das forças invocadas.
Assim, tornar-se bruxa, bruxo, mago ou sacerdotisa não é uma fantasia romântica, mas uma decisão existencial. É escolher um caminho de estudo, prática, ética e consciência. Em um mundo marcado pela pressa e pela superficialidade, o retorno desses arquétipos indica uma busca profunda: compreender os mistérios da vida, do espírito e da existência humana.
Há também aqueles que se aproximam da bruxaria movidos pelo desejo de poder e dominação. A tradição, no entanto, é clara: magia sem ética conduz ao desequilíbrio. Há que atentar à Lei do Retorno: “Toda ação gera uma reação igual e em sentido contrário”. Tornar-se bruxa ou bruxo implica responsabilidade, disciplina e consciência das consequências dos próprios atos.
Mas afinal, o que leva alguém a querer se tornar bruxa ou bruxo? Para muitos, trata-se de uma busca por autonomia espiritual, reconexão com a natureza e rejeição de modelos religiosos rígidos. Para outros, é um caminho de autoconhecimento, cura emocional e afirmação identitária, especialmente entre mulheres que reencontram no arquétipo da bruxa uma forma de empoderamento.
Ser bruxa ou bruxo é assumir um olhar crítico sobre o mundo, valorizar o simbólico e reconhecer que o mistério ainda tem lugar na experiência humana. Mais do que lançar feitiços, trata-se de aprender a ler os sinais, ouvir a intuição e agir com propósitos éticos e morais.
………….
Bahirah Abdalla
Mestre Conselheira do Colégio dos Magos e Sacerdotisas
@colegiodosmagosesacerdotisas
………
*Atenção bruxas, feiticeiras e simpatizantes, o Colégio dos Magos e Sacerdotisas está admitindo novos membros para integrar a Egrégora. Participem!
