Notibras

Regionalismo à parte, bocal até que soa muito bem

Ontem, enquanto eu conversava com minha irmã, ela usou a palavra bocal para se referir à tampa da caneta. Parece algo pequeno, quase banal, mas no instante em que ela disse isso, fui transportada diretamente para minha infância no Maranhão. Foi como uma viagem no tempo, dessas que a gente não programa, mas que acontece de repente, ao ouvir uma palavra, um sotaque, um jeito de falar.

No Maranhão, nós sempre chamamos a tampa da caneta de bocal. Era natural, ninguém estranhava. Cresci ouvindo meus colegas na escola perguntarem: “Cadê o bocal da tua caneta?” ou os professores chamando a atenção: “não mastiga o bocal, não!”. Só depois, já fora de lá, percebi que em outros lugares essa palavra soava estranha, como se fosse um regionalismo perdido em meio à norma padrão.

Ouvir minha irmã resgatar esse termo foi como abrir uma janela para o passado. Lembrei-me das canetas Bic azuis e pretas, do estojo cheio de rabiscos, dos cadernos encapados com papel de presente, da vida simples e ao mesmo tempo tão cheia de significados da nossa infância maranhense. Foi uma lembrança doce, um reencontro com um pedaço da minha história que permanece vivo na linguagem, no vocabulário que carregamos sem nem sempre perceber.

Às vezes, não é preciso muito para que a memória nos envolva por inteiro. Basta uma palavra, como bocal, para me lembrar de onde vim, de quem sou e do sotaque da minha terra que continua guardado em mim.

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