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Relato de um detetive sobre a escuridão do calabouço

Andrezza precisava muito de um emprego, como a maioria das pessoas que não são ricas neste país, e que precisam ter renda para manterem-se vivas e atuantes. Ela já havia rodado pela Capital e participado de algumas poucas entrevistas, depois de ter enviado seu currículo através das mídias sociais, como é comum acontecer, atualmente.

Já trabalhou em lanchonete, servindo lanches e numa papelaria da cidade.

Também vendeu lanches na praia e salgadinhos de porta em porta. No entanto nunca deixou de estudar e está formada no Ensino Médio, tendo como última ocupação trabalhado em um consultório médico como atendente.

Como acontece muito na Economia, as oscilações do mercado fizeram com que o nível do emprego sofresse um revés, e Andreza foi demitida. Ela recebeu todos os direitos trabalhistas, inclusive o Seguro-desemprego, mas a luta pela sobrevivência continuava, e ela precisava recolocar-se no mercado.

E foi assim que, entrevistada e aprovada, começou a trabalhar numa clínica de fisioterapia e Pilates chamada de Espaço do Terror, nome que, de fato nunca foi divulgado, de modo a encobrir as verdadeiras intenções da empresa. Todos que passam em frente àquele endereço só veem o nome comercial: ESPAÇO RELAX CENTER – FISIOTERAPIA E SPA. Tudo enganação!

As verdadeiras intenções da clínica são escamoteadas e muitos são os incautos que caem na sua armadilha. A proprietária, uma mulher morena, pequena e malvada, adora impingir dor e sofrimento nos seus pacientes.

Regozija-se com os gemidos de suas vítimas, dando gargalhadas tétricas, enquanto massageia as pessoas com dedos rígidos, ávida por encontrar os pontos mais doloridos, para provocar mais e mais dor.

A princípio, o ESPAÇO RELAX CENTER se passa por uma clínica normal, com clientela estabilizada, tratamento normal e confraternizações sistemáticas para agradar seus clientes e mantê-los fiéis ao seu projeto maléfico. Mas um grande mistério ronda aquela clínica.

Além da proprietária malvada, na verdade uma sócia-proprietária, existe um sócio, simuladamente simpático, mas tão tenebroso quanto ela. Sua maldade lhe escapa pelos poros, é quase visível. Investigações anteriores revelaram que ele costuma maltratar os anciães do Conselho dos Anciães, uma estrutura de poder (sem poder) dentro da empresa, para
aparentar normalidade.

Afinal, qual é o mistério que ronda essa famigerada clínica? Por que as secretárias trabalham vinte dias, um mês, ou no máximo dois meses, e depois desaparecem, somem, se evaporam?

Nossa missão, há mais de dois anos é desvendar esse mistério. Fui obrigado a inventar dores e começar a frequentar essa clínica do mal.

Ganhei a confiança dos proprietários e consegui fazer uma cópia das chaves de um alçapão devidamente disfarçado que levaria a um escuro e tétrico porão (um calabouço). Pelo menos era o que eu imaginava.

E foi então, que, num sábado do início da primavera, tive as condições de desvendar o mistério. Aproveitei a ausência dos trabalhadores, adentrei a clínica com cuidado. Olhei para os lados e, sorrateiramente, alcancei e abri o alçapão, desci uma escada que rangia e vislumbrei um espaço escuro, lúgubre, assustador! Meu coração queria escapar-me pela boca. E se houver guardas armados?

Morcegos voaram na escuridão, ratazanas correram para os cantos e gemidos cortavam o ar. Foi assustador. E pensei: – É o meu fim!

Apertei em minha mão a poderosa lanterna e apontei-a para um canto da sala, enquanto conferia minha arma mais uma vez. Respirei fundo e segui em frente!

E lá estavam alguns esqueletos que, pelos resquícios de suas vestes reconheci como sendo de duas secretárias, as quais já haviam trabalhado lá: a Tassi e a Alba Valéria. O mau cheiro reinava no ambiente, oriundo dos restos de comida e ossadas mal sepultadas. Mais adiante, encontrei vestígios da Analice. Coitada! Sobreviveu apenas 20 dias perante a maldade da dona Zara e de seu sócio Ewerson, o Risonho Malvado.

Um gemido chamou minha atenção. Passei pelos esqueletos e, lá no fundo, amarrada a uma cadeira estava a Andrezza, ainda viva. Pálida e fraca, perdera muito sangue, o qual estava sendo drenado de suas veias como parte das pesquisas que a Sra. Zara costumava realizar, na busca do corpo perfeito.

No espaço havia também um laboratório de análises, onde vários tubos de ensaio funcionavam para pesquisar os hormônios das vítimas do Projeto Zara de Saúde e Corpo Perfeito.

Constatado que não havia guardas, tratei de acudir a Andrezza o quanto antes, desamarrando suas mãos e fechando o torniquete. – Você está bem?

Perguntei. Ela, meio grogue, balbuciou alguma coisa, o que me deixou aliviado. Daria tempo para salvá-la.

Ato contínuo, liguei para o SAMU (192) e para a Polícia (190), que imediatamente chegaram e conduziram a menina ao hospital.

Quanto aos proprietários, é claro que serão alcançados pela justiça. Mas isso ficará para o próximo capítulo.

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