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Resultado da eleição prova que o bom do caminho é haver volta

Eleição 2022

Em um desses dias dedicado à leitura, folheei a obra de autoajuda A Coragem de Ser Imperfeito, de autoria da pesquisadora e escritora norte-americana Casandra Brené Brown, que assina apenas Brené Brow. Recheado de frases e reflexões de efeito imediato, o livro mostra formas de o ser humano aceitar suas vulnerabilidades. “É preciso coragem para ser imperfeito. Aceitar e abraçar as nossas fraquezas e amá-las. E deixar de lado a imagem da pessoa que devia ser para aceitar a pessoa que realmente sou”. A intenção da narrativa não é discorrer sobre o livro, mas esta locução me chamou atenção por considerá-la uma das mais eloquentes, pois marca – positiva e negativamente – o momento político do país.

Do lado direito, temos um presidente em exercício sem forças para dizer a seu povo que perdeu a eleição e que os tempos são outros. Estupidamente temido por quem não tem a menor ideia do que seja comunismo, do lado esquerdo está um presidente eleito, cuja coragem de pedir voto e de assumir publicamente eventuais falhas deve ter mudado a consciência (e o voto) de muita gente que, sem qualquer convicção, se autodenomina contrária ao PT, a Lula da Silva e a qualquer coisa que não fosse um certo ser mitológico. A verdade é que os adversários, notadamente o clã que está no poder, subestimaram – e subestimam – a inteligência de Luiz Inácio. Muito mais pelo que deixaram de fazer, perderam pela insignificância do adversário.

Como já escrevi aqui neste mesmo espaço, enquanto um perdeu quatro anos se achando mito, o outro mostrou em alguns meses que realmente é uma lenda. A avaliação não é minha, mas, após a volta por cima, me senti na obrigação de concordar. A consequência do resultado eleitoral é uma das provas mais robustas de nossa imperfeição. Por que não aceitar um desfecho óbvio e que, apesar de apertado, sinalizou a vontade da maioria? A resposta para a indagação é simples. O problema é que toda estupidez normalmente é produzida por seres potencialmente amadores. Que me perdoem os ineptos, mas insignificância e estultices cansam, tanto quanto a mesmice da política e dos políticos.

Entediado pela falta pouca variação de temas e pelas razões acima, estive pensando em mudar meus horizontes como pretenso escrevinhador. Pelo menos até que volte a ter coisas boas – ou ruins – sobre o futuro governo, quem sabe passo a falar sobre quitutes de rápida degustação ou a respeito de novos bordados. Enquanto buscava um caminho mais agradável para minhas escritas, ouvia o discurso de Luiz Inácio em sua primeira visita ao centro onde está sediado o governo de transição. Aliás, vale lembrar ao gado embandeirado que continua aguardando o golpe que, dde fato e de direito, a transição já começou. Mais do que isso, a posse do presidente eleito será no dia 1º. de janeiro de 2023. Os votos depositados nas impenetráveis urnas eletrônicas confirmaram a afirmação que eu fazia há semanas.

Parafraseando um velho amigo das redações e antipetista convicto, foi uma das melhores peças oratórias que já ouvi. Acompanho literalmente o companheiro, principalmente depois de saber que ele, ainda que por falta de opção, votou em Lula no segundo turno. Quanto ao discurso, mais uma vez destaco a coragem de ser imperfeito. Não foi um mea culpa, mas, do alto das imperfeições do passado, é louvável e corajoso prometer novos rumos, chorar ao falar da fome, convidar os “perdedores” para integrar o governo de transição e lamentar o “humilhante” papel das Forças Armadas com a fracassada fiscalização das urnas eletrônicas. Ao fim e ao cabo, o tal relatório gerou mais uma vitória para o presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes.

Impossível encerrar a narrativa sem voltar a falar da esperança. Para que jamais esqueçamos de que ela existe, é preciso falar dela todos os dias. Agora, com o início do recolhimento das bandeiras das varandas e da frente dos quartéis, é torcer para que o presidente eleito pense e aja de forma diferente. Considerando o discurso dessa quinta-feira (10), não há dúvida de que teremos um líder com inteligência suficiente para garantir a perenidade da democracia. Por falar em torcida, lembro que em 30 de junho de 2002, seis meses após o início da primeira gestão de Luiz Inácio, o Brasil sagrou-se pentacampeão mundial de futebol. Só falta a Seleção Brasileira ganhar o hexa no dia 18 de dezembro, a 14 dias da posse para o terceiro mandato. Aí, o pé vira uma brasa. Caso isso ocorra, estará provado que o bom do caminho é haver volta. Variando apenas o tempo, a hora e o lugar, cada um sempre acaba descobrindo seu anjo. Pode ser este o momento do início da perfeição.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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