Ela nasceu para o esplendor, no seu mundo azul. Namoro-a em todas as oportunidades. Desde que nasceu, acompanho seu embelezamento, seus banhos de sol e sua nudez, cada vez mais esplendorosa, entregue à brisa, às borboletas, aos beija-flores. Nasceu sozinha, sobre longo caule, que escorei firmemente para que o vento não a perturbe.
Consciente de que as rosas não vivem muito tempo, procuro apreciá-la em todos os momentos que posso. Ela não me dá importância, é claro, pois as rosas só se importam com o sol, mas permite que a olhe e cuide do caule que a sustenta. Desconfio que saiba dos meus sentimentos, pois, quando a olho, torna-se ainda mais bela. Comecei a preparar-me para quando ela se for. Procuro me convencer de que as roseiras do meu jardim ainda me proporcionarão um sem número de emoções. Mas ela é tão esplendorosa! Na sua juventude era apenas um tímido botão.
Agora, madura, desnudou-se completamente. Sempre que a vejo é como se fosse a primeira vez no abismo do coração, por isso, ela nunca murchará na minha lembrança, pois os sentimentos verdadeiros não murcham nunca. Só eu sei o quanto a amo, como sou apaixonado por tudo o que é das rosas. Acredito, com fé, que as rosas são portais para a dimensão de Deus, misteriosamente inexpugnáveis na sua fragilidade, eternas na sua fugacidade. Quando penso que essas criaturas nascem no meu jardim vibro de alegria, pois sinto o Universo pousar para que eu possa montá-lo, como se monta a luz.
