Rubens, cujo magnetismo causava inveja até mesmo nos amigos mais próximos, era de uma fidelidade canina em relação à esposa, Heloísa. Por conta disso, costumava ser alvo de brincadeiras típicas de quando se bebe além da medida.
— Ah, Rubens, Deus não dá asas à cobra. Se eu tivesse esse seu rosto, era cada noite com uma mulher diferente.
— Meu querido Adamastor, o segredo é amar a mesma mulher todas as noites de maneiras diferentes.
Pois é, além de bonitão, o gajo sabia filosofar. Não que tivesse pretensão de se tornar um novo Sócrates, apesar de ser voraz leitor de literatura clássica. Isso sem mencionar o gosto requintado por vinhos, mesmo não demonstrando qualquer pedantismo.
— Se a safra é boa, o paladar agradece.
— Mas e a enxaqueca, Rubens?
— Beba com moderação, meu caro Júlio.
Não que Rubens nunca tivesse exagerado três ou sete vezes. Todavia, mesmo quando o teor alcoólico extrapolava o limite da sensatez, parecia não ter propensão à chatice. E nada de bravatas típicas de valentões. Sono. Simplesmente sono. Era isso que sentia e, assim que acordava, parecia ter saído de um spa, tamanho o frescor do semblante.
Heloísa, por sua vez, não era afeita a bebidas. Mesmo assim, uma forte enxaqueca a visitava de vez em quando. Tomava a medicação prescrita pela médica e, quando podia, passava a manhã inteira na cama. Mas não pense você que a mulher perdia o humor nessas horas.
O marido, que também gostava de brincadeiras, levava uma fatia de melão e outra de mamão para a amada. Enquanto Heloísa se deliciava com as frutas, Rubens tocava levemente as coxas da esposa. Ela sorria.
— Ah, meu amor, você acha mesmo que vai me convencer só por causa desses irresistíveis olhos castanhos?
— Será que estou perdendo o meu charme?
— Tá nada, malandrão! Mas não é toda hora que estou disposta a festejos debaixo do lençol.
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Eduardo Martínez é autor do livro ’57 Contos e Crônicas por um Autor Muito Velho’
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