A chegada da família Bolsonaro em Santa Catarina, agora por meio de Carlos, promete bagunçar de vez o coreto da extrema direita local. Eu estou observando tudo com a maior atenção, porque o enredo tem tudo para ser daqueles que misturam tensão, vaidade e muito ressentimento reprimido. Carlos desembarca no estado para ocupar um espaço que, até ontem, tinha dono: Esperidião Amin, uma das figuras mais tradicionais da política catarinense. E político tradicional não rasga plano, não desfaz acordo e tampouco aceita, de bom grado, ser atropelado.
É difícil imaginar que Amin vá assistir, calado, a essa tentativa de ocupação territorial. Ele, que provavelmente já tinha desenhado alianças, costurado apoios e equilibrado interesses, agora se vê diante de um Bolsonaro querendo sentar na sua cadeira. A direita catarinense, que já vive suas disputas internas silenciosas, pode se preparar: Carlos tem um temperamento peculiar e chegou para chacoalhar tudo.
E não chegou sozinho. Veio para disputar o Senado justamente na mesma eleição que Carol de Toni. Se os dois se elegerem, Santa Catarina terá, na prática, apenas um senador catarinense de fato. Os outros dois serão cariocas, porque, vale lembrar, Jorge Seif também é do Rio. E aí fica a cena curiosa: um estado historicamente orgulhoso de suas raízes, que se vê representado no Senado, majoritariamente, por políticos que não nasceram lá.
É quase irônico: a direita catarinense, tão preocupada com a “identidade” e a “representatividade local”, agora corre o risco de ser comandada por cariocas. Carlos chega com a truculência política característica do bolsonarismo; Carol de Toni, com sua militância ideológica incansável; e Seif já está lá, firme, dizendo representar SC, mesmo sem ser de SC.
No fim das contas, o desembarque de Carlos Bolsonaro não é apenas um movimento eleitoral. É uma invasão simbólica, que ameaça rearranjar a balança de poder entre velhos caciques e novos aventureiros da extrema direita. E, conhecendo a tradição política catarinense, ninguém vai ceder espaço sem lutar.
