Nesta sexta-feira, 28, às 18h30, o Fórum da Cultura, em Juiz de Fora, Minas Gerais, recebe o lançamento de Esquecemos os nomes dos pássaros, novo livro da poeta e professora doutora Sarah Munck, do IF Sudeste MG – campus Santos Dumont. Autora de Diagnóstico do Espelho, livro de poemas que já anunciava uma voz madura e profundamente comprometida com as tensões do nosso tempo, Sarah consolida, com esta segunda obra, um projeto poético coerente e de fôlego. Colaboradora da seção Café Literário de Notibras, onde acostumou leitores a uma escrita que pensa o mundo com delicadeza e rigor crítico, ela leva agora para o formato de livro a mesma combinação de escuta sensível, densidade teórica e compromisso ético que marca seus textos.
Viabilizada pelo Edital Murilão, do Programa Cultural Murilo Mendes (Funalfa), em parceria com a Provérbio Editora, a obra se apresenta como uma narrativa poética que se recusa a separar lirismo e política. Em seus poemas, as dores coletivas e as resistências íntimas se entrelaçam: vozes femininas, memórias de guerra, violências cotidianas e a urgência de não esquecer compõem um tecido de imagens que se expande do corpo individual ao corpo histórico. É uma poesia que não teme nomear a violência, mas também não abdica do gesto de consolo, de abrigo e de reinvenção.
Organizado em seções temáticas como “enxoval”, “extermínio” e “angelus novus”, o livro constrói um mosaico de poemas que dialogam entre si por ecos, repetições, cartas e silêncios. Um dos principais fios condutores é a figura de “Kitty”, a interlocutora imaginária do diário de Anne Frank, a quem Sarah se dirige em diversos poemas. Ao retomar esse gesto, a autora recria o ato de escrever para alguém que escuta em meio ao horror, abrindo um espaço de confidência para meninas e mulheres que, tantas vezes, não puderam dizer em voz alta o que lhes atravessa. Esse diálogo com Anne Frank se amplia em conversas poéticas e filosóficas com Walter Benjamin, Heba Abu Nada, Federico García Lorca, Maria Teresa León e outras vozes que fazem da literatura um campo de resistência.
Há, em Esquecemos os nomes dos pássaros, a consciência clara de que a palavra pode ser um abrigo para memórias feridas. A autora entende a escrita como ato ético e estético: meses de “mergulho e vigília”, como ela relata, resultam em poemas que interceptam e realocam a palavra para preservar o humano em meio à perversidade. O livro se afirma, assim, como um manifesto poético que transforma a experiência da violência em palavra viva, denuncia a indiferença e reafirma a arte como forma de sobrevivência e recomeço – um horizonte em que ainda é possível “reconhecer os pássaros, seu canto e voo diante das ruínas”.
Outro aspecto que torna a obra singular é o cuidado com a acessibilidade. Em diálogo com as diretrizes do Edital Murilão, a edição traz, na capa, um QR code que dá acesso à audiodescrição da capa, a vídeos com voz e à interpretação em Libras de todos os poemas. As declamações são feitas pela própria Sarah, e a tradução em Libras é realizada por profissional da área, alargando o alcance da poesia e reafirmando a ideia de que a literatura deve ser, antes de tudo, um espaço compartilhado.
No lançamento, gratuito e aberto ao público, o livro será apresentado em uma roda de conversa da autora com as escritoras Mírian Freitas (responsável pelo texto da quarta capa) e Marcela Hallack, além do posfácio assinado por Gisela Maria Bester. Para quem a acompanha desde Diagnóstico do Espelho e para os leitores do Café Literário de Notibras, Esquecemos os nomes dos pássaros confirma Sarah Munck como uma das vozes mais consistentes da poesia contemporânea brasileira: comprometida com a memória, atenta às fissuras do tempo e profundamente empenhada em fazer da palavra um lugar de encontro, coragem e cuidado.
