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Saúde mental como um ato de resistência

A divulgação do relatório final da 5ª Conferência Nacional de Saúde Mental deixou sob os olhos do país e do SUS uma alternativa clara ao retrocesso, uma aposta nos cuidados em liberdade. Organizado a partir da base do sistema, com vozes de usuários, profissionais e gestores, o documento estrutura propostas que reafirmam a Reforma Psiquiátrica e o modelo antimanicomial .

A política pública de saúde mental não pode ser técnica, ela é um gesto civilizatório, um bordado coletivo entre escuta e assistência. É Foucault nos lembrando que as instituições de saúde reproduzem saberes e podem confirmar a loucura ou ressignificá-la com dignidade.

A Antropologia da Loucura com nomes como João Biehl nos mostra que a loucura, quando tratada em hospícios, se apaga. Mas quando se reconhece o sofrimento psíquico como potência criativa e disruptiva, se aponta caminhos de subjetividade e dignidade. O relatório da conferência caminha nesse sentido: não apagar, mas acolher.

A presença de quem sofre no centro do debate é política, porque retira do estado o privilégio da voz. O modelo que se propõe não quer manicômios: quer resiliência compartilhada. Não quer medicação obrigatória, mas escuta reguladora.

O grande risco é o enfraquecimento do SUS setor que sustenta esse modelo com precariedade e coragem em recortes orçamentários e discursos privatistas. Mas o campo da Sociologia Política nos insurge a lembrar: políticas públicas só sobrevivem se o coletivo lhes der corpo, voz e demanda.

E aí reside nossa esperança: se o país ainda aprende a cuidar, a saúde mental deixa de ser tabela estatística e vira vida coletivamente respeitada.

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