Ontem, mais uma vez, a ministra Cármen Lúcia me arrancou um sorriso admirado. Não que eu já não estivesse acostumada com sua inteligência afiada e seu jeito firme e elegante de colocar os pingos nos is — mas confesso que, ao ouvir sua fala sobre a “desinteligência natural” de Carla Zambelli, quase bati palmas de pé na sala de casa. Que mulher! Que presença!
Eu admiro a ministra Cármen Lúcia há muito tempo. Ela é daquelas figuras que fazem a gente acreditar que é possível, sim, ocupar espaços historicamente masculinos com competência, coragem e um toque de sarcasmo discreto. Num judiciário que ainda cheira a naftalina, ela chegou como quem acende uma luz, sem pedir licença — e nem precisava. Ariana do dia 19 de abril, com todos os atributos que o signo promete: determinada, direta, um furacão de lucidez.
Vale lembrar que foi ela a primeira mulher a usar calças compridas no plenário do STF, em 2007. E não, não foi um ato banal. Em um espaço onde até a indumentária feminina era pautada por códigos antiquados, ela foi lá e disse com as pernas (de calça): “Estou aqui e vou ocupar meu lugar.”
Hoje, além de ministra do Supremo, é também presidenta do TSE. Dá conta de duas cadeiras que, convenhamos, não são leves. Tudo isso sem perder a compostura e com aquela cara de quem já sabe que vai vencer no final. Cármen Lúcia não grita, não esbraveja, mas quando fala… ah, quando fala, até o latim jurídico se curva perante ao deboche sutil.
Então, diante da condenação de Zambelli a 10 anos de prisão e ao pagamento de 2 milhões em multa, por ter fraudado um mandado de prisão e invadido o sistema do CNJ, a ministra não foi grosseira, não se excedeu. Apenas diagnosticou, com a precisão de quem conhece o vernáculo e o ser humano: “eu começo a não me preocupar só com a inteligência artificial, mas também com a desinteligência natural”. E eu, que já gostava dela, agora quero tatuar essa frase no braço.
Ministra Cármen Lúcia, a senhora é um acontecimento.
