Notibras

Se contasse a alguém sobre certas coisas, me diriam que sou doida

Escrevo para não enlouquecer. Afinal o papel aceita tudo. Existem vozes na minha cabeça que, se eu contasse a alguém, me diriam que sou doida, sim, mais do que já acham que sou.

Existem infinitas vozes, de todos os tipos, de todas as idades, formas e, talvez, até caráter. As boas me deixam em pé nos dias cinzas, que diga-se de passagem, são muitos nesse inverno.

Outras me destroem lentamente quando resolvem me lembrar coisas do passado que insisto em colocar na caixinha do esquecimento. Essas são assustadoras, às vezes, elas me causam dores físicas, porque me remetem e me causam medo – que tenho pavor, pavor mesmo – daqueles que a gente chora doído, sofrido e com intensidade, como quando acorda do pesadelo que tava há tempos querendo acordar mas não conseguia.

Tenho dormido, GRAÇAZADEUS, como diria a minhas amigas que insistem em não me deixar só. Dormir se tornou luxo nos tempos de hoje, é quase que ter dinheiro sobrando no fim do mês.

Todo mundo deseja, ninguém consegue. Dormi mais nas últimas duas semanas do que dormi o ano todinho, isso porque estamos em julho. Lembrei que esse ano não consegui ainda fazer Maria Chiquinha, nem usar chitão, nem saia rodada colorida, porque a maior parte deste mês eu me enfurnei em casa e dormi, infinitamente em qualquer hora do dia, da noite, da tarde.

Sinto falta da canjica, do pé de moleque, do arroz doce e sim, do quentão. Da pipoca não, porque ela se tornou janta nos dias de preguiça vazia.

As vozes, elas se tornam frequentes, sempre quando entro em desespero para olhar no espelho e ver alguém que, geneticamente, não quero ser. Que agonia, seria bom ter portos seguros, ou apenas um porto, aquele que fosse farol. Mas até nisso, minhas vozes me acolhem, as boas e as más.

Acredite se quiser, as más me acolhem mais, porque, de alguma forma maluca, no meu mundo, são as más que me lembram aquilo que não quero ser, em hipótese alguma. São elas que me fazem refletir sobre o que ando fazendo e onde quero chegar, são elas, de forma doentia e que machuca, feito pelo de dedo que a gente puxa com o dente, que me recordam que eu preciso sair e fazer. As más, acho que são mais por essência do necessário, por obviedade da vida.

– Deus, eu me tornei o que mais temia: a pessoa que escreve palavras bonitas.

Existe um traço em mim que grita infinitamente “você precisa ser alguém” mas, quem? O quê? Pra quem? Ser alguém para alguém? Ou ser alguém pra mim mesma?

Viu? Escrevo para me salvar de coisas que não têm respostas, mas insisto em ficar perguntando.

Talvez a gente nunca seja alguém, porque ser alguém é no futuro, e o máximo que a gente consiga é ser alguém no presente. Há um belo e reflexivo diálogo diário.

Obrigada vozes, continuem…

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Thalita por Thalita – (@tha_delgado): Sou muitas, algumas eu já fui, algumas ainda serei, mas, no fundo, sempre mudando. Jornalista por teimosia. Publicitária por conveniência. Empresária por exigência da vida. Crocheteira e escritora por acreditar nos sonhos e por precisar da arte para me expressar e sobreviver. Músicas, livros, linhas, sebos, cafés e cervejas no meio deles, me perco no tempo e me encontro na sensibilidade das pequenas coisas cotidianas. Na pluralidade do que me constitui, elegi o caminho das histórias para sensibilizar quem, assim como muita gente, acredita que a vida se faz rindo e chorando, título do primeiro livro lançado em 2024 pela Editora Autoria.

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