Se eu fosse você, desceria ao âmago do meu ser,
Explorando os corredores secretos da consciência,
E recolheria, com mãos delicadas,
As sombras antigas que ainda sussurram memórias.
Desejaria, com o coração aberto,
Um universo de sensações sem cercas,
Onde o sentir não conhece limites,
E a alma dança livre como o vento.
Se eu fosse você,
Fitava com ternura os olhos que me contemplam
Com a suavidade de quem vê além da pele,
Com a paciência de quem espera o florescer.
Escutaria as vozes que me tocam com lentidão,
Como se cada sílaba fosse um segredo,
Como se os lábios fossem páginas
De um livro escrito só para mim.
Mergulharia no coração que se oferece
Como jardim em primavera,
Aceitaria seus gestos como bênçãos,
Como orvalho que cai sobre a terra sedenta.
Se eu fosse você,
Aprenderia a calar as pedras lançadas,
E a acariciar com palavras brandas
O peito que se abre como janela ao sol.
Caminharia pela praia ao alvorecer,
Quando o céu ainda conversa com o mar,
E as conchas repousam como relicários
De histórias contadas pelas ondas.
Se eu fosse você,
Buscaria o afeto que me sustenta,
A ternura que me encanta,
A melodia que me desperta com notas de esperança.
Não perderia tempo com grilhões invisíveis,
Com tempestades que não me pertencem.
Se eu fosse você,
Ouviria o chamado de quem me sonha,
E deixaria esse som aquecer meu espírito,
Como fogo brando em noite fria.
Se eu fosse você,
Permitiria que o silêncio me elevasse,
Como brisa que conduz ao alto,
Como verso que se escreve no infinito.
Se eu fosse você…
Seria mais eu.
